Parte II Luis Nhachote
RESUMO
A guerra contra o terrorismo em Moçambique tem sido travada em simultâneo com a guerra contra a liberdade e a democracia. A situação em Cabo Delgado tem servido como uma plataforma para securitizar a administração e a forma de governar o país. 1 Notícias ao Minuto. “Moçambique. ONG eleva a 361 total de mortos nos protestos póseleitorais.” 18 de março de 2025. https://www.noticiasaominuto.com/mundo/2749532/ mocambique-ong-eleva-a-361-total-de-mortos-nos-protestos-pos-eleitorais 2 RTP/Lusa. “Hotéis e restaurantes os mais afetados pela tensão pós-eleitoral em Moçambique.” Via Notícias ao Minuto, 24 de fevereiro de 2025; RTP/Lusa. “
Manifestações pós-eleitorais em Moçambique afetaram quase mil empresas e 17 mil empregos.” Notícias ao Minuto, 2025 ; Notícias ao Minuto/Lusa. “Moçambique. Prejuízos de 456 milhões e desempregados após protestos.” 9 de abril de 2025. Serviu durante o mandato do Presidente Filipe Nyusi (2015-2024) como uma plataforma de expansão dos variados interesses económicos que se solidificaram à volta da elite étnica Makonde no poder e de terceiros, em particular a França e o Ruanda. Essa mesma elite usou a guerra como um escudo contra a liberdade de informação e de imprensa. Por outro lado, expandiu as fragilidades políticas, fraturas sociais e o défice democrático do país. Internamente, dentro do partido no poder a FRELIMO, serviu para pressionar e silenciar vozes contestatárias ao desgoverno do país. Matou o debate interno e afirmou a autocracia tribal com o controlo total das Forças de Defesa e Segurança(FDS) pela tribo do presidente Filipe Jacinto Nyusi, os Makonde. Apesar da cosmética composição dos pelouros da defesa, inteligência e interior, na era Nyusi quem controlava os dossiers e quase sempre à revelia dos seus incumbentes e com os seus companheiros no que passou a ser chamado de Conclave Makonde.
Esta repressão e a desgovernação podem piorar durante a presidência de Daniel Chapo. Desde as eleições de 9 de outubro de 2024 que Moçambique vive numa situação de crise política no país que já resultou em cerca de 350 mortos (algumas estatísticas indicam mais de 400).1 As manifestações com índices e inusitadas formas de violência (violência urbana, policial, desobediência civil, desordem pública, saques e ação localizada de grupos paramilitares) deixaram, além do rasto de mortes e milhares de feridos, várias infraestruturas destruídas e um pesado impacto nas economias vizinhas.2
Neste conflito latente e de baixa intensidade que persiste no país as forças de segurança têm sido usadas para reprimir manifestações, criando um contexto securitário em que a oposição também foi equacionada com terroristas urbanos. A célebre expressão de Ésquilo (525 – 456 a.C.) “Na guerra a primeira vítima é a verdade” assenta perfeitamente no conflito que desde outubro de 2017 grassa a província de Cabo Delgado.
Nota-se do lado estatal um enorme esforço de omitir factos que despontam das dimensões desta guerra, como por exemplo a continuidade do tráfico de minerais, da droga e de espécies proibidas. Este relatório explica e analisa os contextos da violência extremista em Cabo Delgado e da reação do Estado pelas suas instituições de defesa e segurança. Analisa brevemente as ondas concêntricas desta violência conjugada sobre as liberdades constitucionalmente consagradas e sobre a atividade jornalística em específico.
Relatorio completo no link a seguir:
