ISIDEF nega autenticidade do vídeo enquanto administrador e residentes confirmam gravação
Por Quinton Nicuete
Mocímboa da Praia –Um vídeo filmado pela população no bairro 30 de Junho circulou nas redes sociais, mostrando o ambiente de contestação durante uma tentativa de reunião entre o governo e os residentes locais. À chegada ao local, a população deparou-se com um forte contingente das Forças de Defesa de Moçambique e, perante essa presença, começou a entoar cânticos exigindo a retirada das Forças de Defesa e Segurança moçambicanas e a permanência exclusiva das tropas ruandesas. Em Kimwani, as vozes repetiam “Thwassaka Waruanda Thwassaka Waruanda”, o que significa em português “Queremos ruandeses Queremos ruandeses”. A manifestação indicava uma preferência clara da população pela presença das tropas ruandesas em detrimento das forças moçambicanas.
( o vídeo em causa)
Face a estas imagens, o major-general tenente Freitas Norte, e comandante do Instituto Superior de Estudos de Defesa foi confrontado pelo jornal O País, tendo negado com veemência a autenticidade do vídeo, classificando-o como falso e manipulado.
“Nós estivemos lá em Mocímboa da Praia, conhecemos bem o cenário. Eu vi as imagens. Para quem esteve no Teatro Operacional Norte e conhece, em particular, Mocímboa da Praia, há questões que se impõem. Porque, em termos de cenário, o espaço onde aquela actividade foi registada não corresponde nem tem qualquer relação com o que é Mocímboa da Praia” afirmou o comandante do Instituto Superior de Estudos de Defesa citado pelo O País.
O tenente Norte, declarou que após análise as imagens não coincidem com o cenário geral de Mocímboa da Praia. Apontou diferenças na vegetação e nas infraestruturas, descrevendo o material como um exercício manipulado com o intuito de descredibilizar as Forças de Defesa e Segurança. Concluiu que quem conhece o Teatro Operacional Norte consegue identificar indícios de edição e composição artificial.
“Há ali uma sugestão de que se trata de imagens trabalhadas para atingir um objectivo que desconheço. No Teatro Operacional Norte, as Forças Armadas são acarinhadas pelo povo, trabalham com o povo. O povo ajuda-nos até certo ponto a identificar manifestações com tendências que possam comprometer a segurança e a estabilidade da região e da população. Portanto, há uma análise pormenorizada. É possível identificar que se trata de um exercício manipulado. E, num contexto de conflito, onde há muitas hostilidades e interesses em jogo, a probabilidade de manipulação da informação é elevada” afirmou o tenente.
Por outro lado, o administrador de Mocímboa da Praia, Sérgio Cipriano, declarou ao Moz24h que o vídeo não reflecte a opinião da população local. Explicou que, no momento da gravação, realizada por alguns agitadores no local, os jovens militares oriundos de várias partes do país estavam empenhados em operações de perseguição aos atacantes nas matas, enquanto outros patrulhavam as zonas costeiras para garantir a protecção da população. Cipriano admitiu não saber se o vídeo foi manipulado ou qual seria o objectivo dos seus autores, mas sublinhou que os jovens continuam a trabalhar e a defender os residentes.
Um residente de Mocímboa da Praia funcionário público afirmou que o vídeo é autêntico e que foi filmado por uma moradora da vila, tendo sido posteriormente publicado no TikTok, onde rapidamente se tornou viral. O residente explicou que perante a situação foi obrigado a levar toda a família para uma zona segura.
“O vídeo é real e foi filmado na EPC de 30 de Junho. Quando assistimos aos acontecimentos preferi retirar a minha família de Mocímboa da Praia” relatou o residente.
O administrador acrescentou que a situação surgiu na sequência da morte de cinco pessoas, incluindo um professor e um agente da polícia, bem como do abandono de uma viatura da República de Moçambique. Perante estes acontecimentos, a população começou a abandonar a vila receando novas incursões. Cipriano apelou à calma, garantiu que a segurança está a ser reforçada e que as forças de defesa continuam a trabalhar para proteger os residentes.
Segundo fontes locais, o ataque mais recente teria como alvo indivíduos que não cumpriram acordos estabelecidos com os insurgentes. “Alguns receberam dinheiro para se aliarem a eles e não o fizeram outros para comprar alimentação e não compraram. Foi uma lição para os que agem da mesma forma” afirmou a fonte, admitindo que situações semelhantes poderão repetir-se enquanto persistir o silêncio cúmplice da população.
Nos últimos dias registou-se um recrudescimento de ataques em vários distritos de Cabo Delgado, incluindo Mocímboa da Praia, com vítimas e deslocações de civis. Este clima de violência e insegurança torna-se terreno fértil para a desinformação, tanto por parte de actores que procuram explorar a confusão como por cidadãos que partilham conteúdos sem verificação. Moz24h
https://moz24h.co.mz/populacao-expulsa-fds-em-mocimboa-da-praia-e-apela-pela-permanencia-ruandesa/