Maputo, Maio de 2024 – Quando hoje, Terça-Feira, 28 de Maio, celebrarmos o Dia Mundial de Gestão de Higiene Menstrual, estaremos, igualmente, a comemorar a passagem dos dez anos do início da campanha global visando influenciar mudanças na forma como o mundo vê a menstruação. São dez anos de sensibilização para a quebra de mitos e tabus; de geração de evidências e conhecimentos sobre um tema que, em muitos países como Moçambique, continua um mistério.
Em 2014, o Dia Mundial de Gestão de Higiene Menstrual começou com apenas 155 organizações parceiras e, hoje, o movimento em torno deste tema, evoluiu para mais de mil parceiros que, anualmente, geram a maior conversa global até à data.
No presente ano, a data é celebrada sob o lema “Juntos, Desconstruindo Mitos e Tabus sobre a Menstruação em Moçambique.” O lema deste ano é uma espécie de chamamento para que todos possamos reflectir sobre como os mitos e tabus podem contribuir, de forma negativa, para a queda de confiança e autoestima das raparigas no período menstrual.
No nosso País, milhares de mulheres e raparigas enfrentam estigma e exclusão social durante a sua menstruação. Elas não têm acesso a recursos e apoio social para gerir a sua higiene menstrual de uma maneira digna e saudável e, em algumas zonas de Moçambique, a menstruação é responsável por um aumento das taxas de abandono escolar e más práticas de higiene, baseadas em equívocos.
A data é celebrada numa altura em que os novos dados (2023) da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Programa de Monitoria Conjunta (Joint Monitoring Programme) do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF)1, indicam que mais de 400 milhões de crianças não têm sanitários decentes na escola. Em outras palavras, isto significa que os sanitários não funcionam, que as raparigas e os rapazes são obrigados a partilhar as instalações – mesmo quando as meninas estão a menstruar – ou, por outras, que não há sanitários, tal como atestam os dados que temos vindo a citar, ao referir que pouco mais de metade daquele número, 220 milhões, não têm sanitários na escola.
Só na África Subsariana, 50% das escolas não têm sanitários adequados. Esta situação está a ter um impacto enorme e negativo nas raparigas que, como referimos anteriormente, são obrigadas a perder as aulas.
O Director Nacional da WaterAid Moçambique, Adam Garley disse: “A escola representa o local onde os alunos passam maior parte do seu tempo e onde adquirem conhecimentos e moldam o seu comportamento também em torno das questões ligadas à higiene. No entanto, muitas escolas do nosso País enfrentam o desafio de acesso sustentável à Água, ao Saneamento digno e seguro, bem como à Higiene, o que coloca em risco a saúde dos alunos, professores e de todo o pessoal de apoio. Estudos demonstram que o acesso à Água, ao Saneamento e à Higiene (ASH) tem uma forte relação com a permanência da rapariga na escola. A falta de condições apropriadas que permitam que as mesmas cuidem de higiene menstrual com segurança e dignidade torna o ambiente escolar nocivo à saúde dos alunos e tem contribuído para o abandono escolar pelas adolescentes no período da sua menstruação”.
A WaterAid, organização internacional com fins não lucrativos apela ao Governo de Moçambique a investir na criação de condições para uma boa gestão de higiene menstrual em comunidades e escolas, nomeadamente: o Investir na produção de evidências científicas, de modo a permitir a elaboração de políticas públicas baseadas em evidências; o Trabalhar na integração adequada e de forma sistêmica da higiene menstrual nas políticas públicas e no processo de planificação nacional; o Garantir recursos adequados para a implementação da política de gênero e respectiva estratégia de implementação, o que inclui a alocação de financiamento e a criação de parcerias público-privadas; o Adoptar uma abordagem abrangente para a gestão da higiene menstrual em todos os sectores relevantes; o Desenvolvimento de programas de educação em saúde menstrual, o Investimento em infraestrutura sanitária adequada, considerando que a falta de acesso a latrinas adequadas e água limpa pode ser uma barreira significativa para a gestão menstrual segura e saudável; Subsídios governamentais para materiais absorventes de baixo custo e seguros, na perspectiva de que a falta de acesso à materiais absorventes seguros e acessíveis pode ser uma barreira para a gestão menstrual adequada.