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CHICAMBA E MARROMEU: O Mordomo da Criação em Xeque entre a Água Poluída, a Fauna Selvagem e a Responsabilidade das Instituições

 

Por Tiago J.B. Paqueliua

Enquanto Chicamba sofre os efeitos da poluição e das falhas institucionais, Marromeu é invadida pela fauna bravia diante de políticas estatais desastradas.

Segundo a governadora de Manica, Francisca Tomás, o nível de poluição da água da albufeira de Chicamba, resultante da exploração mineira, gera incertezas quanto ao estado de saúde da população local (RM, 15/08/2025). Tomás salientou que muitos operadores praticam uma exploração insustentável, o que exige revisão urgente dos métodos e uma fiscalização rigorosa.

 

Neste cenário, o governo central e local, bem como o Parlamento e os partidos políticos, deveriam compreender que são chamados a reforçar a legislação ambiental e garantir a aplicação efetiva das normas. A Procuradoria-Geral da República, juntamente com a Comissão Nacional dos Direitos Humanos, deveria assegurar que as violações ambientais e de saúde pública sejam investigadas e punidas exemplarmente.

ONGs e instituições religiosas não deviam abdicar da sua vocação de pressão em prol de práticas sustentáveis. Jornalistas, ao reportarem factos verificados, e a Ordem dos Advogados, ao prestarem assessoria jurídica, deveriam atuar como pilares de transparência e de defesa dos direitos da comunidade.

A experiência internacional confirma que a ação coordenada das instituições faz diferença:

África do Sul: a fiscalização ambiental rigorosa e a aplicação de sanções severas às mineradoras reduziram significativamente a poluição de rios e albufeiras.

Brasil (Amazónia): a integração de comunidades locais, ONGs e órgãos governamentais demonstrou ser possível conciliar exploração económica com preservação ambiental.

Entretanto, em Marromeu (Notícias.mmo, 14/08/2025), a população enfrenta ameaças devido à presença crescente de elefantes e leões nas proximidades. Relatos de ataques a gado e propriedades, sem qualquer indemnização, têm gerado preocupações profundas.

O governo local, em colaboração com a Unidade de Conservação da Natureza, deveria monitorizar a situação e implementar medidas para reduzir conflitos entre humanos e fauna. ONGs e instituições religiosas deviam pressionar o Estado a respeitar as populações, que não podem continuar a ser tratadas como obstáculos diante de predadores que enriquecem os cofres de operadores turísticos e conservacionistas.

Jornalistas e partidos políticos deveriam assumir o papel de agentes de fiscalização, exigindo respostas rápidas e eficazes. A Procuradoria-Geral da República e a Comissão Nacional dos Direitos Humanos, por sua vez, teriam de assegurar que a proteção da fauna não comprometa os direitos fundamentais da população. Só assim o bem-estar e a felicidade estariam minimamente assegurados.

Experiências internacionais oferecem soluções possíveis:

Quénia: programas de coabitação entre comunidades e fauna selvagem reduziram ataques a humanos, através da criação de corredores ecológicos e de compensações económicas.

África do Sul: parques nacionais integrados com comunidades locais preservam a fauna e evitam confrontos diretos com os humanos, mediante vigilância coordenada.

Tanto em Chicamba como em Marromeu evidencia-se o dilema ético e teológico: o Homem, chamado “Mordomo da Criação”, é simultaneamente guardião e vítima das suas próprias ações. Explorações descontroladas em Chicamba e deslocamentos da fauna em Marromeu revelam que o lucro imediato frequentemente se sobrepõe à responsabilidade moral e ambiental.

A coordenação entre instituições governamentais, partidos, ONGs, Ordem dos Advogados, Procuradoria-Geral da República e Comissão Nacional dos Direitos Humanos é determinante para restaurar o equilíbrio. Quando estas agem isoladamente e de forma meramente simbólica, perpetuam-se a degradação ambiental e os riscos à vida humana.

Os exemplos internacionais demonstram que políticas eficazes combinam fiscalização rigorosa, educação ambiental e participação comunitária. Isto prova que o Homem pode ser realmente mordomo e não mero espectador do seu próprio desastre — desde que haja vontade institucional e consciência moral.

 

Epílogo

Entre memorandos governamentais apócrifos, debates parlamentares insípidos, alertas tímidos de ONGs, jornalismo de fachada, pressões religiosas irrelevantes, pareceres da Ordem dos Advogados caducos e investigações da Procuradoria sem desfecho, o “Mordomo da Criação” assiste ao seu próprio teatro de absurdos.

A água permanece turva em Chicamba; elefantes e leões passeiam por Marromeu; investidores enriquecem; e aqueles que deviam preocupar-se seriamente estão demasiado ocupados a cumprir agendas institucionais improdutivas — menos a salvar o cidadão comum.

Talvez, na próxima sessão conjunta do Parlamento, da Procuradoria, das ONGs e dos partidos, o guião inclua um desfile de peixes contaminados, um coro de leões e audiências públicas com auditório de elefantes. Até lá, resta-nos observar com sarcasmo: proteger a criação exige coragem, responsabilidade e ação efetiva — não apenas discursos, memorandos e notas de imprensa.

O Homem, verdadeiro Mordomo da Criação, descobre diariamente que títulos e cargos não substituem ética, visão e compromisso com a vida. Entre a poluição, a fauna e os interesses económicos, a lição é clara: a Criação exige mais do que observação passiva — exige ação coordenada e moralmente responsável, tão ausente na República de Moçambique.

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