Cultura

CABO DELGADO NÃO SE CALA

Tiago J.B. Paqueliua
Tiago J.B. Paqueliua

 

Por Tiago J.B. Paqueliua

Arrancaram-nos as florestas —
porque aprenderam a ignorância de que os animais selvagens valem mais que nós.
Poluíram o mar, adulteraram tudo que nele há.
Envenenaram o ar — e chamaram isso de desenvolvimento.

Enquanto eles lucram com gás, rubis, grafite e turismo,
nós vivemos a humilhação de ser eleitor só para inglês ver.
De jeeps em jeeps dos nossos impostos,
nós empilhados em atrelados de tratores agrícolas mais caros que a verdade.

O Ibo ergueu-se. Palma gritou. Chiúre resiste à sua maneira.
A corrupção veste farda. A justiça, silêncio.
E a paz sem justiça — como disse Mbembe —
é apenas pausa entre duas guerras.

Refrão ápice:
Não há reconciliação onde a justiça foi esquecida.
Não há paz verdadeira quando a fome é garantida.

A litigância pública é o que nos resta.
A caneta, nosso fuzil legal.
O jornalismo, nossa trincheira.

Porque não nos venderam com a terra.
Não fomos incluídos nos contratos.
Mas existimos. E resistimos.
Mesmo diante do envenenamento da liberdade de expressão.

Refrão inverso:
Quando a fome é garantida, não há paz verdadeira.
E onde a justiça foi esquecida, não há reconciliação inteira.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *