Por Tiago J.B. Paqueliua
Afungi, Cabo Delgado – Precisamente ontem, dia 25, populares da península de Afungi voltaram a denunciar o que consideram ser uma realidade inaceitável: o acantonamento de trabalhadores em recintos fortificados, vigiados pelas Forças de Defesa e Segurança (FDS), inacessíveis às comunidades locais.
Um país dentro do país
Segundo relatos recolhidos no local, a chamada “cercaria” — zonas muradas com controlo absoluto da circulação — é vista como a criação de um “país dentro do país”. Enquanto os recintos garantem segurança máxima às multinacionais envolvidas na exploração de gás natural, confirme testemunha o Video abaixo, os residentes de Afungi e arredores continuam expostos à violência, à pobreza e ao abandono.
“Esses muros não são só de rede tubarão, arame farpado e escorpião, são muros de exclusão. Lá dentro há luz, água, segurança. Aqui fora só temos medo, fome e incerteza”, desabafou um dos populares, pedindo anonimato por receio de represálias.
Responsabilidade social em causa
A promessa de responsabilidade social corporativa, frequentemente anunciada pelas multinacionais e pelas autoridades, contrasta com a realidade observada no terreno. Em vez de escolas, hospitais ou empregos dignos, as comunidades sentem que os benefícios estão a ser canalizados para dentro dos muros.
“Eles dizem que vieram para trazer desenvolvimento, mas até agora o único desenvolvimento que vimos foi para estrangeiros e não para os moçambicanos”, acrescentou uma moradora de Quitunda.
Segurança para quem?
A perceção generalizada entre a população é clara: a segurança existe para proteger capitais e interesses externos, não as vidas locais. Enquanto as FDS concentram-se na proteção dos complexos empresariais, aldeias continuam vulneráveis a ataques e deslocamentos forçados.
“Se a segurança fosse para nós, não teríamos perdido casas e familiares nestes anos de guerra. O que vemos é uma proteção seletiva, que exclui quem mais precisa”, denunciou outro residente.
Um futuro incerto
As denúncias de Afungi reacendem um debate antigo: estará Moçambique a ser dividido por muros visíveis e invisíveis? Muros que separam a riqueza do gás e a proteção oferecida às multinacionais da pobreza, insegurança e abandono vividos pela população local.
Enquanto isso, a pergunta que ecoa entre os populares mantém-se sem resposta: a quem serve afinal a segurança em Cabo Delgado — às multinacionais ou ao povo moçambicano?