Por Quinton Nicuete
Hoje, exatamente 15 anos depois da morte do jovem Hélio, baleado pela polícia em Maputo, outro caso semelhante chocou a população moçambicana. Feniasse, de apenas 12 anos, perdeu a vida dentro de um chapa, após ter sido atingido por um disparo da Polícia da República de Moçambique (PRM), quando o veículo não teria obedecido à ordem de paragem.
Alguns observadores destacam coincidências impressionantes: mesma data, mesma idade das vítimas, e a polícia envolvida em ambos os casos.
A criança seguia no banco traseiro de um carro proveniente da África do Sul, com destino à província de Manica. O incidente ocorreu por volta das 5h, próximo ao posto de controlo de Nyongonhane, onde a viatura havia pernoitado.
Segundo Mathew Nyamunda, transportador que seguia no veículo, “minutos depois do posto de controlo, os agentes da PRM perseguiram o carro, exigindo documentos. Ao tentar apresentar os papéis, um disparo atravessou o vidro traseiro e atingiu a nuca da criança”. A morte foi instantânea.
O incidente desencadeou a fúria da população local. Testemunhas relatam que, ao perceberem o erro, três dos quatro agentes conseguiram fugir, enquanto um foi cercado e linchado até à morte por dezenas de populares revoltados.
“Colocaram plásticos e capim sobre ele, queimaram-lhe as pernas, mas conseguiu levantar-se e ir para a estrada. Foi então trazido de volta e o corpo incendiado completamente”, relatou Salaudina Samson, testemunha ocular.
O tumulto persistiu e a polícia enfrentou dificuldade em remover os corpos, já que a população bloqueou a passagem na estrada e exigiu responsabilização pelos disparos que mataram a criança. Só por volta das 8h foi possível remover os corpos, após o uso de gás lacrimogéneo.
Em comunicado, o porta-voz do Comando-Geral da PRM, Leonel Muchina, confirmou o incidente e admitiu “imperícia e irresponsabilidade” por parte dos agentes. “Os envolvidos encontram-se sob custódia e serão sujeitos a processo disciplinar, com proposta de expulsão, pois não nos revemos nesta atitude”, declarou Muchina. A polícia também assegurou assistência à família do menor para a realização das cerimónias fúnebres.
Apesar disso, a população de Bobole não se conteve. Durante mais de sete horas, o tráfego na EN1 ficou totalmente bloqueado, causando filas quilométricas e prejuízos para condutores e comerciantes locais. Muitos abandonaram os veículos e permaneceram na estrada, observando os acontecimentos ou tentando descansar à espera do desbloqueio.
“Estou aqui desde às cinco horas, venho da África do Sul e vou a Maxixe. Já são 12 horas parados, crianças estão com fome e uma cerimônia familiar terá de ser adiada”, relatou Luís Mbazima, passageiro afetado pelo bloqueio.
O trânsito só voltou a fluir por volta das 12h, permitindo que milhares de pessoas prosseguissem viagem para diferentes pontos do país. Moz24h