Por Quinton Nicuete
Mocímboa da Praia vive dias de medo e abandono. O ataque armado recente que vitimou cinco pessoas, incluindo um professor e um agente da polícia, desencadeou uma nova vaga de deslocações internas e colocou o sector da educação em alerta, com um aumento expressivo de pedidos de transferência escolar.
O Serviço Distrital de Educação, Juventude e Tecnologia confirmou em comunicado emitido esta quarta-feira 17 que várias escolas do distrito têm recebido solicitações de encarregados de educação para transferirem os filhos para instituições em zonas mais seguras, tanto dentro como fora da província. Contudo, a nota assinada pelo substituto do director distrital, Salmo Bacar, orienta as direcções escolares a receberem os pedidos, mas sem lhes dar seguimento até novas instruções, remetendo a decisão para uma reunião agendada para 20 de Setembro.
A realidade porém é que o medo já fala mais alto do que qualquer despacho administrativo. Famílias inteiras estão a abandonar a vila em busca de refúgio em Mueda, Montepuez e Pemba ou outras zonas consideradas seguras. O êxodo é visível com movimentações de transportes, casas fechadas, barcos de pesca encalhados e campos agrícolas abandonados. “É melhor fugir do que esperar pelo próximo ataque. Não há futuro aqui”, contou ao Moz24h um residente que prepara a viagem para Montepuez com a esposa e quatro filhos.
No sector da educação o impacto é imediato. Professores relatam turmas cada vez mais reduzidas e alunos que se recusam a frequentar aulas por trauma. “O assassinato do professor abalou profundamente a comunidade escolar. Muitos estudantes não conseguem regressar e os pais têm medo de deixá-los sozinhos nas escolas”, explicou um fonte da Direcção Distrital de Educação.
O abandono de Mocímboa da Praia revela um duplo fracasso, a incapacidade do Estado em garantir a segurança mínima dos cidadãos e o colapso de sectores vitais como a educação. A cada ataque não se perdem apenas vidas humanas, perdem-se também sonhos, projectos de futuro e a confiança da população.
O administrador distrital, Sérgio Cipriano, disse ao Moz24h a dias que as forças moçambicanas, em conjunto com os militares ruandeses, estão a proteger os civis:
“A população deve estar tranquila e confiante. Estamos a garantir a segurança e a impedir que mais pessoas sejam atacadas”, afirmou.
Enquanto isso a vila outrora estratégica para a economia local corre o risco de se transformar numa cidade fantasma, marcada pelo silêncio, pelo medo e pela fuga constante de quem já não acredita na protecção prometida pelas autoridades. Moz24h