Por Quinton Nicuete
As Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) tornaram-se o primeiro palco da prometida ofensiva contra a corrupção lançada pelo Presidente Daniel Chapo. Uma auditoria interna revelou o desvio de cerca de 48 milhões de meticais através de um esquema de facturas falsas envolvendo serviços de tradução jurídica fictícios. O caso expôs uma rede de funcionários e fornecedores que durante anos beneficiaram-se de um sistema de favoritismos e cumplicidades dentro da empresa pública.
Segundo Integrity, perante os resultados da investigação, a nova Comissão de Gestão e o Conselho de Administração da LAM decidiram suspender o director financeiro e quatro quadros seniores num movimento apoiado diretamente pelo Executivo. A decisão marca o início de uma purga interna inédita na companhia que durante décadas acumulou denúncias de má gestão, contratos inflacionados e privilégios encobertos por protecções políticas.
A ofensiva surge no contexto do processo de reestruturação em curso na LAM orientado pelo Governo e com aval do Presidente da República. Desde a sua investidura em janeiro deste ano Daniel Chapo tem insistido na necessidade de restaurar a ética e a responsabilidade no serviço público. “O povo será o centro de todas as decisões”, afirmou no discurso de posse, uma promessa que começa agora a ganhar corpo.
O tom reformista foi reafirmado no balanço dos 100 dias de governação quando Chapo advertiu que “dentro da nossa empresa há pessoas com conflitos de interesse” e prometeu afastar quem bloqueia o desenvolvimento do país. A expressão “as raposas” que se popularizou após esse discurso passou a designar os gestores que tratavam o Estado como feudo pessoal.
A auditoria na LAM confirmou que a empresa era uma das principais tocas dessas raposas. O esquema agora desmantelado funcionava através de uma empresa fictícia criada apenas para emitir facturas e justificar pagamentos milionários por serviços inexistentes. Segundo fontes internas, uma única tradutora juramentada executava o trabalho real recebendo valores muito inferiores aos registados nas facturas fraudulentas. O restante era repartido entre funcionários dos departamentos jurídico e financeiro.
A nova direcção decidiu romper com o passado e enfrentar os interesses que historicamente bloqueavam qualquer tentativa de moralização interna. “Quem usava o Estado como esconderijo vai ter de prestar contas ao país”, disse uma fonte ligada à gestão refletindo o novo espírito que se instala na companhia.
Mais do que um caso isolado de corrupção o que está em curso na LAM é um teste à credibilidade da promessa presidencial de saneamento do aparelho público. A empresa que durante anos simbolizou tanto o orgulho nacional quanto o declínio institucional pode agora tornar-se o primeiro exemplo concreto de uma administração que começa a agir onde antes reinava a impunidade.
A caça às raposas parece finalmente ter começado e desta vez dentro de casa. (Moz24h)
