Por Quinton Nicuete
Pemba, Cabo Delgado — Num contexto de conflito armado no norte de Moçambique, jornalistas e comunicadores foram instados a exercer a sua função com responsabilidade, sensibilidade e um compromisso com a promoção da paz. A recomendação foi feita durante uma acção de formação promovida pelo Instituto Dallairedos e pela Rede de Jornalistas para os Direitos Humanos (JDH), que reuniu profissionais da comunicação em Pemba para discutir o papel da comunicação social na prevenção do recrutamento de crianças para fins militares.
Durante a sua intervenção, Mustafa, director da JDH, sublinhou a importância da linguagem utilizada pelos jornalistas em contextos de instabilidade.
“Os jornalistas são também lembrados de que as palavras têm peso. O que dizem e a forma como o dizem é extremamente relevante. As palavras podem inflamar uma situação já delicada. Ao utilizar determinados termos ou adjectivos para descrever o conflito, o jornalista pode transmitir a ideia de que está a tomar partido. Por isso, é fundamental escolher as palavras com consciência e responsabilidade,” alertou.
Mustafa acrescentou ainda que o jornalismo deve contribuir para a solução dos conflitos, e não para o seu agravamento:
“Qualquer expressão ou frase que possa conduzir a uma escalada de violência deve ser evitada. A forma como se conta a história pode ajudar a resolver o conflito ou, pelo contrário, agravá-lo. Defendemos, por isso, um jornalismo orientado para as soluções.”
Por seu turno, Enia Mondlane, representante do Instituto Dallaire, explicou que esta acção formativa teve como objectivo colmatar lacunas na cobertura mediática de temas sensíveis como o recrutamento e utilização de crianças em conflitos armados.
“Identificámos a necessidade de reforçar a capacidade dos jornalistas nestas matérias. Esta formação representa a primeira fase de um processo mais abrangente, que incluirá a submissão de propostas de reportagem por parte dos participantes, com possibilidade de financiamento das melhores ideias,” referiu.
De acordo com Enia, os jornalistas envolvidos terão a oportunidade de ver os seus projectos financiados e concretizados, com o apoio técnico e institucional da organização Jornalistas para os Direitos Humanos, uma entidade canadiana parceira da iniciativa. Após esta etapa, estão igualmente previstos diálogos comunitários a decorrer em diversas localidades, nos quais os jornalistas terão um papel activo.
Entretanto, o representante do Governo Provincial, através da Direcção Provincial do Género, Criança e Acção Social de Cabo Delgado, apelou aos profissionais da comunicação social para que assumam uma postura ética e responsável, de forma a desencorajar o recrutamento de menores por grupos armados. Moz24h