Economia

Grafite em Conflito: População e Namparamas bloqueiam mina de Balama por Justiça Social

Por Quinton Niquete

A mina de grafite operada pela TWIGG Exploration and Mining, no distrito de Balama, em Cabo Delgado, continua fechada há quase sete meses, à medida que a tensão entre a comunidade local e a empresa mineira se intensifica. Agora, a resistência ganhou reforço: os Namparamas, conhecidos pela sua organização tradicional e poder comunitário, juntaram-se aos protestos para impedir a retoma das atividades sem resolução das reivindicações.

Desde setembro de 2024, as comunidades afectadas erguem barricadas à entrada da mina para exigir o pagamento de indemnizações pelas terras ocupadas e contestar despedimentos considerados arbitrários. Segundo os líderes do movimento, cerca de 760 famílias aguardam uma compensação de 150 mil meticais cada.

“A empresa insiste em ignorar nossos direitos. Só vamos sair daqui quando pagarem o que nos devem. A terra era nossa fonte de sustento”, afirmou um dos representantes dos Namparamas no local.

As denúncias não se restringem apenas à questão fundiária. Vários ex-trabalhadores relatam condições laborais degradantes, despedimentos injustificados e falta de subsídios básicos.

“Fomos afastados apenas por pedir o mínimo: aumento salarial, uma alimentação equilibrada e respeito pelos nossos direitos. Trabalhamos duro, mas fomos descartados como lixo”, desabafa um antigo funcionário da mina.

O governador da província de Cabo Delgado, Valige Tauabo, já tentou intermediar o diálogo entre as partes por três vezes. Na última reunião, realizada na semana passada, estiveram presente o governo distrital, representantes da empresa e líderes comunitários. Contudo, o impasse persiste.

As comunidades mantêm-se firmes nas suas exigências e recusam a reabertura da mina até que as promessas sejam cumpridas, apurou a reportagem no local.

A TWIGG Exploration and Mining optou por não prestar declarações à imprensa até o momento.

A mina de Balama tem sido apontada como uma das mais promissoras no setor de grafite, matéria-prima utilizada em componentes de alta tecnologia, incluindo baterias para veículos elétricos. Relatórios indicam que empresas internacionais, como a do bilionário norte-americano Mark Zuckerberg, utilizam o grafite de Balama em seus produtos.

Entretanto, por trás das cifras milionárias do comércio global de minerais, permanecem comunidades que, até hoje, aguardam justiça social e económica.

“Não somos contra o desenvolvimento. Mas este tipo de desenvolvimento que passa por cima das pessoas e ignora os seus direitos, não é bem-vindo”, concluiu um líder comunitário durante a manifestação.

A crise em Balama lança mais uma vez luz sobre os dilemas das comunidades locais diante de megaprojetos extrativistas em Moçambique. Sem uma abordagem justa e inclusiva, a promessa de progresso pode facilmente se transformar em motivo de resistência.(Moz24h)

 

 

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