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Festival KISSAMBI acende polémica na capital de Cabo Delgado

Mercado do Alto-Gingone

 

Por Quinton Nicuete

O município de Pemba realizou, no passado sábado, a aguardada Gala de Angariação de Fundos para a segunda edição do Festival KISSAMBI, evento que promete “mostrar o melhor de Pemba numa só ligar”. A noite, que decorreu no Reef Calma, contou com a actuação da cantora angolana Yola Semedo, mas acabou envolta em críticas e controvérsias devido aos valores cobrados pelos bilhetes e ao contexto social da província.

Os ingressos, fixados em 8.000 e 4.000 meticais, foram considerados “inacessíveis e insensíveis” por vários residentes, numa altura em que Cabo Delgado enfrenta graves problemas de deslocamento populacional, fome e insegurança. “Com guerra, deslocados e fome, estamos a festejar a desgraça… que falta de sensibilidade”, lamentou um morador nas redes sociais.

A organização do evento, promovido pela edilidade de Pemba, visava arrecadar cerca de 2,8 milhões de meticais, complementando os cinco milhões de meticais já investidos pelo município na preparação do festival. Fontes da vereação de Cultura e Turismo referem que o financiamento viria de parceiros públicos e privados, mas até agora não foi divulgada a quantia efectivamente angariada.

A gala contou com a presença de figuras da elite provincial, mas o processo de credenciação da imprensa também gerou polémica. Inicialmente aberto a todos os jornalistas interessados, o acesso foi posteriormente limitado pelo assessor de comunicação do município, que informou, “por decisão dos chefes máximos”, que apenas cinco órgãos de comunicação públicos poderiam cobrir o evento.

Enquanto o município aposta no fortalecimento da sua agenda cultural, cresce o descontentamento popular face ao que muitos consideram “falta de prioridades”. Pemba enfrenta há anos sérios problemas de erosão costeira, deficiente saneamento básico, estradas degradadas e iluminação pública insuficiente, factores que têm agravado a insegurança e dificultado o quotidiano dos residentes.

Nos bairros de Paquitequete e Chibuabuare, a escassez de água continua a ser um drama. “Vivemos sem água durante semanas, mas as facturas continuam a vir com valores altíssimos”, queixou-se Ernesto Mussa, morador de Chibuabuare. Já Fátima Ibraimo, residente em Expansão, apontou a criminalidade crescente: “As ruas estão às escuras e muitos vizinhos já foram assaltados.”

Para o activista social Abudo Gafuro, a verba aplicada no festival deveria ser canalizada para infra-estruturas básicas. “A cultura é importante, mas Pemba está mergulhada em problemas estruturais graves. Sem resolver estas questões, qualquer festival será apenas um espectáculo que mascara a realidade”, afirmou, questionando se houve ou não auscultação pública sobre a utilização dos cinco milhões.

Com semáforos inoperacionais, estradas esburacadas e bairros sem asfalto, o brilho da gala de luxo contrasta com o quotidiano difícil da maioria dos pembenses. No final, mais do que música e glamour, o Festival KISSAMBI reabre o debate sobre as verdadeiras prioridades de um município que, entre o palco e os escombros, parece dividido entre o espectáculo e a sobrevivência. Moz24h

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