Jovens de 39 países, reunidos no Brasil, lançaram uma declaração ousada a poucos meses da COP30: apelam à acção climática imediata e exigem justiça no financiamento climático.
Duzentos jovens delegados de 39 países reunidos presencialmente em Belo Horizonte, no Brasil, e outros 300 participantes ligados via Internet aprovaram, no dia 4 de Abril, a Declaração da Juventude pelo Clima de Belo Horizonte, um apelo ousado e global que exige mudanças concretas e imediatas na agenda climática internacional. O documento é considerado o ponto alto da Cimeira Global da Juventude pelo Clima 2025, que contou com a participação da E&M, e que se realizou na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Brasil.
A declaração, redigida de forma colaborativa durante os quatro dias da cimeira, reivindica acções urgentes e compromissos firmes dos líderes globais em cinco áreas prioritárias: financiamento climático e prestação de contas, liderança e participação juvenil, justiça climática e equidade, conhecimento tradicional e soluções baseadas na natureza, cidades sustentáveis e transição justa.
“Nós, os jovens reunidos em Belo Horizonte, reafirmamos o nosso compromisso com um futuro guiado pela educação, biodiversidade e justiça”, lê-se no preâmbulo da declaração. O documento apela ainda à inclusão efectiva dos jovens nos processos de decisão política sobre o clima, à valorização dos saberes tradicionais e ao financiamento climático justo e acessível às comunidades mais vulneráveis.

O conteúdo da declaração foi apresentado na cerimónia de encerramento da cimeira, no qual a ministra brasileira do Meio Ambiente e Alterações Climáticas, Marina Silva, se comprometeu a levar o documento à COP30, que terá lugar em Novembro, na cidade de Belém, no estado do Pará, Brasil. “Sinto-me profundamente inspirada pelo que ouvi e testemunhei aqui. Esta declaração representa a coragem e a visão de uma geração que já lidera”, afirmou a governante.
Moçambique, tem enfrentado fenómenos climáticos cada vez mais graves e tem menor capacidade de adaptação, o que o torna num símbolo das injustiças discutidas na cimeira
Moçambique, como país que tem enfrentado fenómenos climáticos cada vez mais extremos – como os ciclones Idai, Kenneth, Freddy e Gombe –, que deixaram milhares de desalojados, destruíram infra-estruturas e agravaram a pobreza, também participou no evento de forma virtual. Apesar de quase não contribuir para as emissões de gases com efeito de estufa, o País continua entre os países com menor capacidade de adaptação, o que o torna num símbolo das injustiças discutidas na cimeira.
Em painéis como “Juventude e Justiça Climática”, “Perdas e Danos”, “Segurança Hídrica” e “Adaptação Liderada Localmente”, os participantes trouxeram à tona realidades de comunidades do Sul Global que, como as moçambicanas, enfrentam múltiplas vulnerabilidades socioeconómicas e ambientais. Foi unânime, entre os jovens, a exigência de financiamento climático justo, reconhecimento dos saberes tradicionais e maior envolvimento da juventude na elaboração de políticas públicas globais.
Organizada pelo Global Youth Leadership Center (GYLC), em parceria com a UFMG, a Cimeira contou com a participação de especialistas como o ex-cientista da NASA Peter Fiekowsky e o professor Geraldo Fernandes, da UFMG. Foram promovidos debates sobre ciência do clima, restauração da biodiversidade, inteligência artificial e soluções comunitárias para adaptação às alterações climáticas. A presença de representantes indígenas e de comunidades na linha da frente dos impactos climáticos deu uma dimensão profundamente humana à cimeira. Rayane Xipaya, activista indígena do Pará, fez um apelo emocionado pela protecção das florestas e pela preservação dos modos de vida tradicionais: “O futuro da Amazónia está nas nossas mãos, e os nossos direitos devem ser respeitados.”

Além das sessões plenárias, os participantes visitaram o museu-jardim Inhotim, trocaram experiências culturais e fortaleceram laços internacionais. O evento terminou com a nomeação dos dez Campeões Climáticos da Juventude 2025, provenientes de países como Bolívia, Gana, Etiópia e Indonésia, pelos seus projectos comunitários de acção climática. Os laureados receberam apoio financeiro para implementarem projectos de acção climática nas suas comunidades.
Marco de integridade e coragem
Para os organizadores, a Declaração de Belo Horizonte é um marco na construção de um movimento juvenil global mais forte e estruturado rumo à COP30. “A integridade e a coragem demonstradas por estes jovens são o que pode mudar o mundo”, afirmou Ejaj Ahmad, fundador do GYLC.
No fim da cimeira, ficou evidente que territórios como Moçambique não podem continuar a ser marginalizados na resposta à crise climática. A juventude que participou da Cimeira Global da Juventude pelo Clima 2025 deixou uma mensagem clara: é preciso garantir que os países mais afectados também liderem os caminhos para a transição justa e sustentável que o planeta exige.
Com vozes firmes e propostas claras, os jovens deixaram em Belo Horizonte uma mensagem inequívoca: o tempo de esperar acabou, é tempo de agir.

(DE)