Por Edson Manuel
O recente anúncio de um aumento salarial de 49 Meticais gerou grande expectativa entre trabalhadores e observadores económicos. Num contexto de desafios sociais e pressões inflacionárias, qualquer reajuste salarial tende a ser recebido como uma vitória. No entanto, a análise económica mostra que a realidade é mais complexa do que o número oficial sugere.
Em economia, distingue-se entre aumento nominal e aumento real. O aumento nominal corresponde ao valor anunciado, neste caso 49 Meticais, sem qualquer ajuste. Já o aumento real procura medir quanto esse acréscimo realmente representa em termos de poder de compra, isto é, a capacidade de adquirir bens e serviços adicionais num contexto de preços crescentes.
Segundo dados oficiais do Instituto Nacional de Estatística (INE), a inflação homóloga em Moçambique situou-se em 4,79% em agosto de 2025. Este indicador, conhecido como Índice de Preços ao Consumidor (IPC), é a referência central para calcular a perda de valor do dinheiro no tempo. Assim, ao aplicar a taxa de inflação ao aumento anunciado, o cálculo é o seguinte:
Aumento Real = 49 ÷ (1 + 0,0479) ≈ 46,75 Meticais
Em termos práticos, o que este cálculo mostra é que o trabalhador não sente os 49 Meticais completos no bolso. O valor que se traduz em ganho efetivo é de aproximadamente 46,75 Meticais, já que a inflação corrói cerca de 2,25 Meticais do montante anunciado.
Este exercício de ajuste é fundamental para compreender a relação entre salários e custo de vida. A inflação funciona como um “imposto invisível”, reduzindo silenciosamente o poder aquisitivo dos cidadãos. É por isso que, em qualquer economia, analistas fazem a distinção entre valores nominais e reais porque só os segundos revelam a verdadeira evolução do bem-estar das famílias.
No caso moçambicano, esta análise levanta uma questão essencial: será que aumentos salariais desta magnitude conseguem, de facto, melhorar as condições de vida dos trabalhadores? Quando comparado com a subida generalizada dos preços de bens alimentares, transporte e energia, torna-se evidente que os ganhos são limitados.
Mais do que discutir apenas os números absolutos, é necessário situar o debate no campo das políticas económicas. Um aumento nominal de salários pode ser rapidamente anulado por uma inflação elevada, se não houver medidas que garantam estabilidade macroeconómica, eficiência na produção e segurança alimentar. Ou seja, aumentos salariais precisam estar acompanhados de estratégias de crescimento económico que sustentem o poder de compra no médio e longo prazo.
Portanto, embora o reajuste de 49 Meticais seja positivo e bem-vindo, a análise realista demonstra que o ganho verdadeiro no bolso do trabalhador é de aproximadamente 46 Meticais. É um lembrete de que, em economia, muitas vezes os números que parecem mais generosos no papel não correspondem à realidade do mercado. O debate público deve, por isso, ir além dos valores anunciados, questionando também as condições que determinam a sua efetividade no dia a dia dos moçambicanos. (Moz24h)