Moz24h Blog Politica ANAMOLA: Nova Pedra no Sapato dos Partidos Políticos em Moçambique
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ANAMOLA: Nova Pedra no Sapato dos Partidos Políticos em Moçambique

 

Venâncio Mondlane Desafia o Status Quo Político Costumeiro

Por Tiago J.B. Paqueliua

Com a aquisição de personalidade jurídica, da recém-constituída formação política ANAMOLA – Aliança Nacional para um Moçambique Livre e Autónomo, presidida por Venâncio Albino Mondlane, ex segundo candidato mais eleito no último sufrágio de resultados bastante contestados através de longas manifestações com saldo de canalizações patrimoniais públicos e privados e coartação de direitos constitucionais de ir e vir, mais de 400 mortos entre elementos das FDS e civis, tantos desaparecidos e cerca de 300 detidos, está aberta uma nova grelha de ação política de reversão da geoestratégia nacional.

Sendo Venâncio Mondlane um líder carismático que arrasta multidões de todas as províncias do país e da diáspora moçambicana, seria expectável a capitalização da correlação de sinergias entre as forças da oposição para conjuntamente derrubar democraticamente a FRELIMO, seu adversário no poder desde 1975, e que tem demonstrado por palavras e ações ser um Partido-Estado com pretensões de permanecer perpetuamente, não obstante estar a sofrer duras críticas devido à sua má governação que inclui corrupção, exclusão, nepotismo e violação sistemática da Constituição e dos Direitos Humanos, o que colapsou o país para a miséria e violência.

Apesar disso, há anos idos, o general na reserva Alberto Chipande, membro fundador da FRELIMO, afirmara que seu partido iria governar Moçambique por mais cem anos. Ainda no decurso deste mês de Agosto, Henriques Naweka, Secretário Provincial da ACLLIN – Associação dos Combatentes da Luta de Libertação Nacional de Nampula, dissera a jornalistas que a FRELIMO jamais deixaria o poder até à Segunda Vinda de Jesus Cristo, com um Mandato de Despejo da parte do Pai Celestial.

Oposição em Desalinhamento

Infelizmente, para a maioria dos integrantes da oposição, o nascimento do partido ANAMOLA, vulgo “ANAMALALA”, não passa de uma pedra ponteaguda incómoda nos seus sapatos:

Estamos a falar do PODEMOS, que graças ao carisma de Venâncio Mondlane conseguiu assentos no parlamento e nas assembleias provinciais.

O MDM, cuja Secretária-geral afiançou que membros seus seriam afastados em virtude de estarem a apoiar a ANAMOLA, viu mesmo Albano Cariz, Presidente do Município da Cidade da Beira — única autarquia sob administração do MDM — filiar-se à nova formação política.

O general e politólogo Elias Macajo Marceta Dhlakama, membro da RENAMO e irmão do seu falecido presidente Afonso Macajo Marceta Dhlakama, informou a jornalistas que a ANAMOLA não constituía nenhuma ameaça à RENAMO, que, no seu entender, continuava a ser a segunda força política do país — quando na verdade a segunda força política é o PODEMOS, o segundo partido mais votado.

Não se antevê aproximação saudável entre a ANAMOLA e os partidos da oposição com assento parlamentar — PODEMOS, RENAMO e MDM. Assim sendo, é possível que encontre alianças nos grupos extra-parlamentares.

Relação Tensa com a FRELIMO

Relativamente ao relacionamento da ANAMOLA com a FRELIMO, este é tenso, marcado por prisões arbitrárias de membros e simpatizantes. As Forças de Defesa e Segurança têm sido mobilizadas para disparar e dispersar multidões que se aproximam de Venâncio Mondlane.

Um caso emblemático ocorreu no Posto Administrativo de Machoca, distrito de Namuno, província de Cabo Delgado, onde um chefe do posto policial ordenou a prisão de um automobilista que se regozijou pela aprovação da ANAMOLA. A população enfurecida fez refém o chefe do posto até à libertação do simpatizante.

O Peso da Adesão de Albano Cariz

Segundo o Top24horasnews de 19/08/2025, o edil da Beira, Albano Cariz, une-se a Venâncio Mondlane no partido ANAMOLA. Trata-se de um movimento político inesperado e significativo, que tem o potencial de reconfigurar o panorama político nacional.

Citado pelo mesmo órgão, Elias Dhlakama, irmão do falecido líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, afirmou que o surgimento do partido ANAMOLA, liderado por Mondlane (VM7), não representa risco de substituição da RENAMO no cenário político moçambicano.

“ANAMOLA é ANAMOLA e RENAMO é RENAMO”, frisou Elias, destacando que o partido de Mondlane surge num espaço político aberto pela longa trajetória da RENAMO.

Repressão em Machoca

Segundo o Cartamoz (19/08/2025), o comandante do posto da PRM em Machoca, feito refém em protesto contra a detenção de um jovem apoiante de Mondlane, já foi restituído à liberdade, tal como o detido.

O jovem, motorista de profissão, foi acusado de “manifestar publicamente satisfação” pela aprovação da ANAMOLA. A comunidade local insurgiu-se, cercando a residência do comandante e exigindo explicações sobre uma detenção considerada arbitrária e anticonstitucional.

Num vídeo que circula nas redes sociais, é possível ver jovens a exigir do comandante que contactasse os seus superiores distritais, para justificar a prisão de alguém que apenas exerceu um direito constitucional.

Disparos em Maputo

De acordo com o Notícias ao Minuto (18/08/2025), no regresso de Venâncio Mondlane ao Aeroporto Internacional de Maputo, ouviram-se disparos da Unidade de Intervenção Rápida, acompanhados de gás lacrimogéneo, numa tentativa de travar o acesso de apoiantes ao local.

“Em 2028, com a ANAMOLA, vamos limpar todos os municípios”, afirmou Mondlane, garantindo que o partido pretende disputar o poder local de forma decisiva.

 

Epílogo: O Futuro da ANAMOLA e da Democracia Moçambicana

A ANAMOLA surge como um fenómeno político disruptivo, mas o seu destino dependerá da sua resiliência face à repressão, da sua capacidade de estruturar bases organizadas e da sua habilidade para transformar carisma em votos consistentes.

Em 2028, ano de eleições municipais e gerais, Moçambique poderá assistir a uma disputa tripla entre FRELIMO, ANAMOLA e os partidos da oposição tradicional. Se conseguir atrair figuras-chave — como já aconteceu com Albano Cariz — e mobilizar as massas urbanas e da diáspora, Mondlane pode transformar a ANAMOLA numa ameaça real à hegemonia da FRELIMO.

Por outro lado, a divisão da oposição pode, paradoxalmente, fortalecer a continuidade da FRELIMO, que se alimenta da fragmentação dos seus adversários.

O dilema central é este:

Será a ANAMOLA a semente de uma renovação democrática em Moçambique, ou apenas mais um capítulo de fragmentação que reforça o poder instalado?

A resposta começará a desenhar-se com precisão já nos próximos anos, nas ruas, nas urnas e na resistência popular.

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