Opiniao

ANAMALALA É UMA CARAPUÇA INCÓMODA

Por Tiago J.B. Paqueliua

Se o nome ANAMALALA não fosse uma carapuça particularmente incómoda ao regime e aos seus fiéis A-chicundas — esses apóstolos da ortodoxia político-burocrática — por que razão, então, florescem em Moçambique partidos políticos com designações oriundas da nobre e ancestral língua E-Mákwa, como os casos gritantes de AMUSI e PAHUMO?

Pergunta-se: com que régua moral e jurídica mede o Ministério da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos o que é ou não admissível no universo das línguas nacionais? Terá, porventura, Sua Excelência o Ministro desenvolvido recentemente a habilidade de jogar com pau de três bicos, contrariando as leis da física e da coerência institucional?

Se o argumento — solenemente oferecido em tom doutoral — é o de “evitar o regionalismo”, como se justifica a existência de nomenclaturas regionais já aprovadas e em funcionamento pleno? AMUSI e PAHUMO não são, por acaso, expressões linguísticas oriundas do Norte do país, essa região tantas vezes desconsiderada nas geografias do poder central?

O que faz, afinal, de ANAMALALA um nome mais perigoso ou subversivo do que os anteriores? Será que é por ter o dom de traduzir em poucas sílabas aquilo que muitos cochicham nos corredores da consciência nacional? Será o seu pecado o de ser demasiado claro, demasiado directo, demasiado… popular?

Não será este veto uma daquelas decisões que tentam esconder-se atrás de argumentos técnicos, quando o que está em causa é puramente político, talvez até pessoal?

E mais: quem, em plena posse das suas faculdades mentais e sensibilidade política, não antevê o óbvio? Mesmo que se obrigue o movimento a substituir o nome ANAMALALA por qualquer outra fórmula insípida, nada impedirá que a designação sobrevivente o acompanhe como epíteto afectivo, como slogan mobilizador, como alcunha carismática — ou mesmo entre aspas: Movimento Tal, “vulgo ANAMALALA”.

Proibir a palavra é, na prática, glorificá-la. Porque se há coisa que o ridículo da censura sempre produziu com abundância é o contrário do seu intento: atenção pública, solidariedade espontânea e, claro, um leve escárnio pela autoridade.

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