Por Quinton Nicuete
Ancuabe, Cabo Delgado – Dois homens, identificados posteriormente como membros da força local, foram amarrados e torturados por moradores da aldeia de Mopanha após serem acusados de simular um ataque terrorista. O incidente ocorreu no dia 9 de Junho, por volta das 19h, quando os suspeitos saíram da vila-sede do distrito numa motorizada e se dirigiram à entrada da comunidade. Ao chegarem, dispararam tiros para criar pânico e forçar a fuga da população.
Mopanha, considerada uma rota estratégica para insurgentes, viu seus moradores reagirem prontamente ao som dos disparos, fugindo em massa para o mato. No entanto, alguns permaneceram escondidos e decidiram observar a origem dos tiros. Ao se aproximarem dos suspeitos, perceberam que eram apenas dois indivíduos armados, um número incomum para uma incursão insurgente. A dúvida levou à captura dos homens, que foram imediatamente desarmados e interrogados.
Apesar dos questionamentos, os suspeitos permaneceram em silêncio sobre suas identidades, o que levou os populares a submetê-los a espancamentos brutais. Após a tortura, ambos finalmente admitiram que pertenciam à força local e revelaram suas reais intenções: além de espalhar o terror, tinham como objetivo roubar gado, galinhas e outros bens dos moradores.
O comando distrital da Polícia da República de Moçambique (PRM) foi acionado pelas autoridades comunitárias locais, confirmando a identidade dos suspeitos e solicitando que suas vidas fossem poupadas. Embora tenham garantido que não os matariam, os populares insistiram na continuidade dos espancamentos como forma de “educação”.
O incidente reforça o clima de desconfiança entre a população e as forças de segurança. Casos semelhantes já haviam sido registrados na região de Muaja, em Ancuabe, onde suspeitos foram capturados por locais após simular ataques para justificar saques de gado e mantimentos. Em fevereiro deste ano, paramilitares foram acusados de criar pânico para facilitar pilhagens, evidenciando uma preocupante ruptura entre quem deveria garantir proteção e aqueles que vivem sob vigilância constante. (Moz24h)