Por Tiago J.B. Paqueliua
E eis que, num rasgo de lucidez estratégica misturada com realismo fiscal, Marco Rubio, Secretário americano, citado pelo jornalPn de 2 de Julho de 2025, anuncia ao mundo que a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), a partir de 1 de Julho de 2025, deixa oficialmente de ser o Pai Natal planetário para governos mimosos e orçamentos preguiçosos. A fábula acabou: quem quiser ajuda, que demonstre maturidade.
Segundo Rubio, a nova USAID não mais implementará programas de ajuda em países onde a autocomiseração e a burocracia parasitária são elevadas a desporto nacional. Nada de subsídios perpétuos a elites que engordam em conferências enquanto os povos mendigam em estradas esburacadas. Nada de projectos mirabolantes de “capacitação” que apenas capacitam consultores a comprar jipes novos. Doravante, o foco é simples: investimentos, parcerias e crescimento auto-sustentado. E, pasmem, espera-se que os países façam algo tão exótico quanto governar-se a si próprios.
Para o cidadão americano médio, que até ontem financiava através dos seus impostos clínicas fantasmas, estradas que não saíam do PowerPoint e ONGs de fachada que brotam como fungos tropicais, isto soa a bálsamo. Já não bastava carregar nos ombros os caprichos do Pentágono, Wall Street e Silicon Valley — também tinha de sustentar ministérios empoeirados algures no equador? Pois bem, Rubio diz “não mais”. E, ironicamente, fá-lo em nome da solidariedade inteligente: quem quiser dólares, que demonstre responsabilidade.
Esta é uma boa nova para países sérios — ou que queiram pelo menos fingir que levam a sério o seu próprio desenvolvimento. Para as Repúblicas das Bananas de gravata italiana e discurso redondo, o choque promete ser traumático.
Não se espantem se, daqui a dias, surgirem seminários urgentes sobre “novas estratégias de financiamento sustentável” ou missões diplomáticas de pires na mão, tentando espremer a última gota de condescendência que reste nos corredores de Washington. A romaria promete.
Os apologistas do “coitadismo internacional” certamente vociferarão que se trata de abandono imperialista, que é imoral cortar o cordão umbilical a nações que se habituaram a lamber feridas históricas, enquanto a má gestão devora cada tostão. Mas Rubio e a sua USAID rebatem com uma lição básica de economia doméstica: antes de mendigar ajuda, tente lavar a casa, tapar buracos de corrupção, e, quem sabe, começar a tributar quem de facto enriquece à sombra do Estado.
Para alguns países, esta ruptura será o apocalíptica; para outros, a oportunidade rara de crescer sem muletas. E para os contribuintes americanos, um sussurro de alívio: menos impostos desperdiçados com palácios, limusines ministeriais e “workshops” de reciclagem de ideias velhas.
E assim se inaugura, talvez, um novo ciclo. O ciclo em que a ajuda internacional se torna finalmente selectiva, exigente e, quem diria, produtiva. Resta saber quem está preparado para abandonar a síndrome de ser perpetuamente assistido e arregaçar as mangas. No fim das contas, Marco Rubio atira-nos uma máxima que deveria ecoar de Maputo a Pemba: quem quer ser tratado como adulto, que pague as próprias contas.
Porque, afinal, a grande ironia é esta: o futuro da ajuda externa não será mais esmola, mas investimento. E investimento só corre para quem demonstra ser digno dele. Países sérios, avante! Países recreativos, melhorem ou não percam a oportunidade de se calarem.
Conclusão
Se esta viragem não nos der a coragem de limpar as próprias contas, nada mais nos salvará. Papai Noel não está disposto a subsidiar para sempre a preguiça institucional.
Que tudo isso se ouça no parlamento, nas assembleias de principais e municipais, nos corredores ministeriais, nas ONG também: quem se atreve a fazer da mendigagem o seu ofício, cedo ou tarde estará na corda bamba, a comer pão amassado por diabo. E quem não sabe se governar, não merece governar.
Que a USAID agora não financia. Doa a quem doer. Amém.
