Navio de pesca industrial ilegal naufraga em recife moçambicano, levantando perigos sobre crise ecológica e de governança
Por Estacio Valoi
Na manhã de 16 de outubro de 2025, um navio de pesca industrial, número de identificação BZWE4, 403-J057, encalhou no recife de barreira em Island Rock, perto de Inhambane, Moçambique. Dois outros navios (BZWE2, 403-J055 e BZWE3, 403-J056) chegaram ao local para tentar rebocá-lo, mas os esforços até então não foram satisfatórios.
Segundo fontes falando em anonimato ao Moz24h, os três navios são de arrasto industriais, o que não corrobora com os registos feitos pelo sistema de rastreamento AIS, que os classifica como navios de carga. Estas classificações erradas violam os protocolos internacionais de transparência. As espécies capturas pelo navio naufragado foram transferidas para os outros barcos, sendo que uma parte foi distribuída entre os membros da comunidade local. A tripulação abandonou o navio pouco depois do incidente e o barco permanece no recife desde então.
Actividade ilegal e impacto local
Este naufrágio é o resultado directo da atcividade pesqueira ilegal que se tornou cada vez mais prevalente nas águas do sul de Moçambique. Os arrastos ocorrem regularmente sem identificação, desligando os sistemas AIS e pescando perigosamente perto da costa, muitas vezes a profundidades entre 20 e 15 metros, apesar das regulamentações claras que proíbem isso. Esses incidentes parecem ocorrer sem condições de tempestade e, neste caso, os relatórios sugerem que o capitão pode ter adormecido.
Embora se suspeite que estas embarcações pratiquem a pesca de arrasto de fundo, um dos métodos de pesca mais destrutivos, a presença de tais frotas faz parte de um padrão mais amplo e bem documentado. Investigações realizadas por grupos como a Environmental Justice Foundation (EJF) e instituições académicas relacionaram a pesca industrial estrangeira em Moçambique com ilegalidades generalizadas, sobre-exploração e danos ecológicos.
Fontes acrescentaram que “os arrastos acontecem de noite, desligando o seu AIS, e, por vezes, até as suas luzes, realizando pesca de arrasto nos nossos recifes desde a Praia da Rocha até Ligogo. Roubam tudo dos recifes, recifes esses onde os turistas mergulham e das quais as comunidades dependem para se alimentarem. Os recifes encontram-se cada vez mais sobreexplorados, as pessoas passam fome, mas os que estão no poder enchem os bolsos e fecham os olhos.”
Emergência ecológica
Há uma preocupação crescente com um derrame iminente de combustível do tanque do navio naufragado, o que devastaria o ecossistema marinho circundante e colocaria ainda mais em risco a segurança alimentar de comunidades que já enfrentam dificuldades. Os proprietários do navio recusaram assumir a responsabilidade por qualquer derrame, alegando falta de seguro.
“Este barco não deveria estar perto da costa, e agora enfrentamos um enorme desastre ecológico se o combustível derramar”, partilhou um conservacionista local. “Estudos mostram que a região de Jangamo já está a sofrer devido à sobrepesca e às alterações climáticas. Este derrame pode ser o golpe final. Precisamos de agir AGORA.” Disseram fontes
Testemunhas da comunidade em anonimato relatam que as autoridades provinciais recusaram intervir, alegando o envolvimento de “autoridades moçambicanas poderosas”. A inscrição em chinês visível no navio levou à especulação de que o navio pode fazer parte de frotas chinesas que operam sob contratos oficiais com o governo moçambicano. Estas suspeitas refletem as levantadas em vários relatórios independentes, incluindo A Tide of Injustice (Uma Maré de Injustiça) da EJF e a análise da LSE sobre a Yu Yi Industries, uma empresa chinesa que opera extensivamente no Banco de Sofala.
Conforme descrito na Carta de Moçambique e em fontes internacionais, muitos navios chineses foram documentados a pescar durante épocas de defeso, utilizando artes de pesca proibidas e conspirando com as elites locais para evitar a responsabilização. Os próprios pescadores moçambicanos manifestaram preocupação com o declínio das populações, a insegurança alimentar e os abusos a bordo de navios estrangeiros.
Baía de Jangamo: uma região de importância global, ignorada
Este naufrágio ocorreu dentro da Baía de Jangamo, uma área marinha que inclui Island Rock, Paindane, Guinjata e Coconut Bay. Este litoral é reconhecido internacionalmente como um Mission Blue Hope Spot, bem como uma Área Importante para Mamíferos Marinhos e Tubarões e Raias da IUCN. Apesar deste reconhecimento internacional, nenhuma resposta de emergência foi iniciada
Em contacto com uma outra fonte, aquela enfatizou que “É preciso uma frota de marinha de guerra com vedetas rápidas, os radares ao longo da costa a funcionar, helicópteros de patrulha e salvamento, aquartelamentos de militares da marinha ao longonda costa, para combater estas actividades, o tráfego de droga e humano. A costa moçambicana do rovuma ao Maputo é uma porta escancarada a todos esses malfeitores e crimes. E o mesmo se pode dizer das fronteiras terrestres. São completamente abertas. Só nos postos fronteiriços há presença da migração e allgum policiamento. E esse, na sua maioria, corruptos. Moçambique é um país falido com ausência total de soberania a todos os níveis.”
(Moz24h)

