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No País Onde os Crimes de Guerra Compensam

Foto : Estacio Valoi

 

Foto : Estacio Valoi

Por Tiago J.B. Paqueliua

Chamaram de paz o que era silêncio imposto,
de reconciliação o que era conluio,
de perdão o que nunca teve arrependimento.
Deram medalhas a matadores,
salários a cães de guerra,
e assinaram acordos com tinta de sangue fresco,
sem uma só lágrima das vítimas contada.

DDR, dizem.
Desarmamento. Desmobilização. Reintegração.
Mas nunca disseram: arrependimento, justiça, verdade.
Nunca perguntaram quantas viúvas ainda acordam com o grito do passado,
quantos órfãos ainda sonham com rostos que nunca mais verão.
Apenas contaram as poucas armas devolvidas
e ignoraram os corpos nunca sepultados.

Hoje, os assassinos andam engravatados.
A FRELIMO, a RENAMO e sua Junta Militar
revezam-se no palco da impunidade,
trocando apertos de mão diante de câmeras,
enquanto os escombros da guerra respiram abandono.
E agora, como epílogo macabro,
chegam os jihadistas.
Filhos bastardos de uma nação que ensinou,
por seus atos e omissões,
que é vantajoso matar.

Sim, os senhores da guerra estão atentos.
Sabem que neste país
quem chora enterra,
quem mata governa.
Sabem que a amnistia virá como brinde,
que a reintegração trará subsídios,
e que a justiça é apenas uma palavra bonita
para os discursos da ONU.

E o povo?
O povo aprende, à força,
que viver em paz é crime,
que sofrer em silêncio é heroísmo,
que lembrar é perigoso,
e exigir justiça é radicalismo.

Num país onde os crimes de guerra compensam,
o futuro não é uma estrada — é uma emboscada.
E cada perdão sem memória
é um convite à próxima carnificina.

Mas eu me recuso a esquecer.
Escrevo para que o sangue se transforme em palavra,
e a palavra em acusação.
Para que a história, mesmo mutilada,
não se curve ao conforto dos algozes.

Enquanto não houver justiça retributiva,
não haverá paz — só trégua.
Enquanto os assassinos forem os que se dizem defensores,
a nação continuará refém de sua própria cobardia.

E se calarem todos os tribunais,
que falem os poetas.
Que reste ao menos o poema como testemunha,
para quando o povo despertar
e exigir o que nunca lhe foi dado:
verdade, justiça e reparação.

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