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Festival Kissambi com apoio da empresa Renco, acusada de poluir ambiente de duas escolas em Pemba

O Festival Kissambi conta, entre outros apoios, com o patrocínio da empresa Renco, apontada por munícipes e gestores escolares como uma das principais responsáveis pela poluição que há mais de cinco anos afeta gravemente o ambiente no bairro de Alto-Gingone, na cidade de Pemba.
O silêncio do Conselho Municipal de Pemba levanta dúvidas e críticas entre os residentes, que questionam se a inércia da edilidade estará relacionada com os avultados valores que o município recebe em apoios e patrocínios. Para muitos, o alegado descaso tem colocado em risco a saúde de milhares de alunos e moradores que convivem diariamente com o odor nauseabundo que emana das instalações da empresa.
Fontes próximas à edilidade confirmaram à Moz24h que, ontem 16 de Outubro, o presidente do município, Satar Abdulgani, deslocou-se às instalações da Renco para uma reunião cujo conteúdo não foi divulgado. Curiosamente, durante a visita, um grupo de músicos locais surpreendeu o edil para o felicitar pelo seu aniversário, facto que, segundo vários munícipes, ilustra “a proximidade desconfortável entre a empresa e a gestão municipal”.
vídeo do edil com músicos nas instalações da Renco
A 7 de Fevereiro deste ano, a Moz24h já havia noticiado a mesma situação, alertando para a contaminação do ambiente escolar nas Escolas Básica Amizade Moçambique-China e Secundária Maria Mazzarello, ambas situadas junto às instalações da empresa.
De acordo com Cacilda Rafael, diretora da Escola Básica Amizade Moçambique-China, o cheiro proveniente das fossas da Renco compromete o normal funcionamento das aulas e representa um sério risco à saúde pública.
⁠“O cheiro intenso chega às salas de aula e ao bloco administrativo. Isto prejudica a aprendizagem e põe em causa a saúde das nossas crianças. Aqui perto vendem-se lanches que os alunos compram e consomem, o que é extremamente perigoso”, afirmou.
A diretora acrescentou que, mesmo após vários contactos com a empresa, a situação mantém-se inalterada.
⁠“Já tentámos dialogar, mas nada mudou. Até aqui no meu gabinete o cheiro é insuportável. As crianças brincam ali e passam pessoas constantemente.”
Joana Mário, vendedora ambulante nas imediações, partilha da mesma preocupação:
⁠“Estamos a passar mal. Todos os dias sentimos um cheiro horrível que vem da fossa da Renco. Parece mesmo cocó.”
Contactada pela Moz24h, a empresa negou responsabilidade na origem do problema e afirmou estar a “monitorar o perímetro e a reforçar as ações de higiene e limpeza”. No entanto, segundo apurou este jornal, representantes do departamento de recursos humanos da Renco terão tentado subornar o repórter responsável pela investigação com 10 mil meticais, na tentativa de travar a publicação da matéria, proposta prontamente recusada e horas depois a empresa apresentou uma queixa contra o jornalista alegando difamação.
A polémica ganha novo fôlego com a participação da Renco como patrocinadora do Festival Kissambi, o que leva muitos a questionar as prioridades da gestão municipal e a relação entre o poder económico e a proteção da vida pública.
Entre os projectos emblemáticos que a Renco opera, destaca-se o Terminal Portuário de Pemba, infra-estrutura considerada estratégica para apoiar os projectos de extracção de gás natural na bacia do Rovuma, concretamente o Mozambique LNG operada pela petrolífera francesa TotalEnergies.
A pergunta que permanece no ar é inevitável: entre a vida e os milhões, o que realmente se valoriza? (Moz24h)

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