Por Quinton Nicuete
Enquanto grupos terroristas continuam a semear medo em vários distritos de Cabo Delgado, o Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC) aposta na capacitação dos seus agentes para enfrentar a crescente ameaça.
Na noite de terça-feira, 7 de outubro, um grupo armado invadiu uma mesquita no bairro Milamba, nos arredores da vila-sede de Mocímboa da Praia, onde cerca de 15 fiéis foram forçados a assistir a uma pregação de teor radical. Segundo vídeos enviados à nossa redação, os insurgentes, empunhando armas, usaram o púlpito religioso para difundir mensagens extremistas, misturando apelos à fé com ameaças diretas à população.
Durante cerca de vinte minutos, os homens, vestidos de forma tradicional e com a “bandeira de Subuwana Wuatala” em destaque, proferiram discursos que visavam desacreditar as autoridades nacionais e exortar os jovens à adesão total à sua causa. “Não existe bandeira de Filipe Nyusi nem de Daniel Chapo. A única bandeira válida é a de Subuwana Wuatala”, afirmou um dos insurgentes, incitando os fiéis a “não temer morrer pela religião”.
A retórica, carregada de interpretações religiosas distorcidas, procurou associar a fé islâmica à violência e justificar ações extremistas em nome de Deus. “Todo o pecador será punido. Estamos a defender a religião verdadeira”, ameaçou outro homem, sob o olhar silencioso e assustado dos presentes.
Até ao momento, não há pronunciamento oficial das autoridades sobre o incidente. A polícia permanece em silêncio, enquanto os moradores de Mocímboa da Praia descrevem um clima de medo e insegurança.
Em paralelo, e como resposta à escalada de ameaças, decorre no distrito de Ancuabe uma formação de dois dias destinada a agentes do SERNIC, com foco no combate à criminalidade organizada e transnacional, incluindo o terrorismo.
A iniciativa, apoiada pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), reúne investigadores de vários distritos, entre eles Chiúre, Macomia, Mueda, Meluco, Mocímboa da Praia e Pemba, considerados os mais expostos à violência armada.
Na abertura do evento, segundo uma nota publicada na página oficial do Governo Distrito, Administrador de Ancuabe, Belmiro Casimiro, apelou aos participantes, uma nota publicada na página oficial do governo de Ancuabe, para “tirarem o máximo proveito da formação”, realçando que “a defesa da ordem pública depende de um corpo policial tecnicamente preparado”.
Por sua vez, o Diretor Nacional da Técnica Criminalista, Jorge dos Santos Carlos, destacou que o combate ao terrorismo “requer uma abordagem coordenada e proativa, assente na investigação e partilha de informação”.
Com esta formação, o SERNIC procura fortalecer a resposta institucional diante das ameaças que continuam a desafiar a segurança e a estabilidade em Cabo Delgado. Enquanto isso, as comunidades vivem divididas entre a esperança num reforço da proteção e o medo constante de novos ataques. Moz24h
