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Daniel Chapo ‘valida’ 700 mortes na Tanzânia

Lusa

 

Da cerimónia de Maputo ao caos em Dar es Salaam: Samia Suluhu, que validou a posse de Chapo, enfrenta agora acusações de repressão mortal em casa

Por Quinton Nicuete

Centenas de pessoas perderam a vida nos últimos dias na Tanzânia em consequência de violentos protestos que eclodiram após as eleições gerais de quarta-feira, marcadas por fortes suspeitas de fraude e repressão policial.

O principal partido da oposição, Chadema, acusa o governo de manipular os resultados e estima cerca de 700 mortos em confrontos com as forças de segurança. Fontes diplomáticas, contudo, apontam números ligeiramente inferiores, entre 500 e 600 vítimas mortais, embora a dimensão real da tragédia permaneça incerta devido ao apagão da Internet e das comunicações em todo o país.

Face à escalada da violência, o governo reforçou a presença militar nas ruas e impôs um recolher obrigatório nacional. Durante o dia das eleições registaram-se confrontos em várias cidades, com a polícia a recorrer a gás lacrimogéneo e munições reais para dispersar manifestantes.

Hospitais e morgues em Dar es Salaam encontram-se sobrelotados, e organizações de direitos humanos relatam prisões arbitrárias, raptos e desaparecimentos forçados de militantes opositores e jornalistas. “Os massacres acontecem à noite, longe dos olhares do público”, denunciou John Kitoka, dirigente do Chadema, que acusa o governo de agir com impunidade absoluta.

A comunidade internacional reagiu com preocupação. As Nações Unidas, bem como os governos do Reino Unido, Canadá e Noruega, apelaram à contenção das forças de segurança e à abertura de uma investigação independente.

Apesar do clima de contestação, a Comissão Eleitoral Nacional declarou a vitória expressiva da presidente Samia Suluhu Hassan, com 97,6% dos votos, garantindo-lhe um novo mandato de cinco anos e reforçando o domínio histórico do Chama Cha Mapinduzi (CCM), partido no poder desde a independência em 1961.

Na região semi-autónoma de Zanzibar, o candidato do CCM, Hussein Mwinyi, obteve cerca de 80% dos votos, também em meio a denúncias de fraude. As manifestações na ilha provocaram o cancelamento de voos e bloqueios no aeroporto local, deixando turistas retidos.

Curiosamente, nas passadas eleições gerais de Moçambique, igualmente marcadas por acusações de fraude e repressão, a presidente tanzaniana Samia Suluhu esteve presente em Maputo para participar na cerimónia de empossamento de Daniel Chapo, numa visita vista por críticos como um ato de legitimação simbólica de um processo eleitoral também manchado por violência e mais de 600 mortos segundo estimativas de organizações civis.

Essa coincidência política tem gerado reações entre observadores regionais, que afirmam que Samia veio validar as mortes de lá e agora valida as de cá, num contexto de alianças políticas e silêncio diplomático entre governos da África Oriental e Austral.

Analistas alertam que a crise eleitoral tanzaniana pode agravar a instabilidade no país e comprometer a credibilidade democrática de uma região já fragilizada por práticas autoritárias e repressão contra a dissidência.

(Moz24h continuará a acompanhar os desdobramentos da crise na Tanzânia e as suas implicações regionais.)

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