Economia

Conheça os Maiores Fundos Soberanos de África… e do Mundo

Texto: Jaime Fidalgo

Os fundos soberanos, ao contrário dos fundos de investimento tradicionais, não são cotados no mercado e não podem ser comprados por investidores particulares ou institucionais. Tratam-se de fundos criados e geridos pelos governos, com objectivos de rentabilidade de longo prazo, que visam assegurar o bem-estar futuro das populações. Essa é a principal diferença entre os fundos soberanos e as reservas internacionais (os activos acumulados em moeda estrangeira por um país), que são orientadas para a liquidez ou a estabilidade cambial, ou seja, para objectivos de curto prazo.

Tipicamente, a origem desses fundos provém da venda de recursos minerais e dos royalties associados à sua exploração. Foi isso que aconteceu com os primeiros fundos soberanos, lançados pelo Kuwait e pela Arábia Saudita, dois países excessivamente dependentes das receitas do petróleo que é um recurso finito. E, alguns anos depois, surgiu também a Noruega, cujo Fundo Soberano é o mais valioso do mundo e a grande referência em termos de estratégia, qualidade e transparência de gestão.

Mais tarde, surgiram outros tipos de fundos soberanos, designadamente na Ásia, onde as receitas provêm sobretudo dos superavits ou excedentes fiscais. Importa referir, porém, que nem todos os fundos se dirigem à poupança futura. Alguns visam, por exemplo, proteger os países da volatilidade dos mercados externos ou das crises económicas, outros para auxiliar a diversificação da economia e o desenvolvimento social a longo prazo.

Os dez maiores fundos soberanos do mundo

Actualmente, os países detentores dos maiores fundos soberanos do mundo são a Noruega (Europa), a China e Singapura (Ásia) e a Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Qatar (Médio Oriente).

O líder global por activos é o Norway Government Pension Fund Global (GPFG) da Noruega, com 1,4 biliões de dólares aplicados, segundo a Global SWF. Fundado em 1997, o capital é oriundo de uma parte das receitas da extracção de petróleo e gás e o objectivo principal é garantir a sustentabilidade futura das pensões.

O segundo maior é o China Investment Corporation (CIC), com activos avaliados em 1,2 biliões de dólares. Criado em 2007, tem três subsidiárias: a que gere as participações nas maiores instituições financeiras do país, a que apoia as exportações e internacionalização das empresas chinesas e a dirigida a investimentos no estrangeiro.

O terceiro do ranking, também chinês e com activos acima de mil milhões de dólares, é o SAFE Investment, que pertence ao banco central e controla as reservas de moeda estrangeira e de ouro.

No Médio Oriente, o fundo mais valioso é o Abu Dhabi Investment Authority (ADIA), fundado em 1967 e com activos sob gestão de 984 mil milhões de dólares. O capital provém dos excedentes petrolíferos e é um dos maiores investidores mundiais em imobiliário, infra-estruturas e private equity.  Já o Kuwait Investment Authority (KIA) é o mais antigo (foi criado em 1953) e tem um papel central no sistema financeiro do país.

Rank Fundo Soberano País Activos (mil milhões USD) Ano
1. Norway Government Pension Fund Global (NBIM) Noruega 1 379 1990
2. China Investment Corporation (CIC) China 1 240 2007
3. SAFE Investment Company (SAFE IC) China 1 082 1997
4. Abu Dhabi Investment Authority (ADIA) Emiratos Árabes Unidos 984 1967
5. Kuwait Investment Authority (KIA) Kuwait 801 1953
6. GIC Private Limited (GIC) Singapura 769 1981
7. Public Investment Fund (PIF) Arábia Saudita 700 1971
8. Qatar Investment Authority (QIA) Qatar 429 2005
9. Investment Corporation of DubaI (ICD) Emiratos Árabes Unidos 341 2006
10. Temasek Singapura 288 1974

Fonte:  Global SWF Data Platform, Janeiro 2024

Os dez maiores fundos soberanos de África

Segundo um estudo publicado este ano pela Cleary Gottlieb (uma multinacional de advogados), os fundos soberanos têm vindo a crescer na África Subsaariana (foram criados 15 novos fundos desde 2010). No entanto, os activos totais ascendem a 160 milhões de dólares, um valor relativamente baixo à escala global. O Pula Fund, do Botsuana, e o Welwitschia Fund, da Namíbia, dirigem-se à estabilização monetária. Investem sobretudo em liquidez (obrigações e acções) e visam compensar os défices orçamentais.

Já o Lagos Wealth Fund, da Nigéria, e o recém-criado Fundo Soberano de Moçambique dirigem-se à poupança e a criar valor para as gerações futuras. Por fim, o FGIS do Gabão e o Fundo Soberano de Angola estão mais vocacionados para o investimento em grandes projectos que permitam desenvolver a economia nacional.

Por activos, os dois mais valiosos são o Libyan Investment Authority (LIA), 25.º maior do mundo, com activos avaliados em 68 mil milhões de dólares, e o Ethiopia Investment Holdings (EIH), 36.º, com 46 mil milhões de dólares. Os seguintes têm carteiras de investimento significativamente mais baixas, dos quais se destaca o referido Pula Fund, que é o mais antigo do continente e tem activos de 3,8 mil milhões de dólares.

Por países, o Gana é o único com dois fundos entre os 15 maiores de África. Os restantes são, por esta ordem, Líbia, Etiópia, Botsuana, Nigéria, Egipto, Angola, Gabão, Marrocos, Senegal, Maurícias, Ruanda, Djibuti e Namíbia. De referir que, na proposta de lei de criação do Fundo Soberano de Moçambique, a Comissão do Plano e Orçamento refere que estudou com particular atenção os casos do Gana (Ghana Heritage Fund), do Botsuana (Pula Fund) e da Tanzânia (Tanzania Petroleum Development Corporation).

África Fundo Soberano País Ativos (mil milhões USD) Ano Mundo
1. Libyan Investment Authority (LIA) Líbia 68,4 2006 25.º
2. Ethiopian Investment Holdings (EIH) Etiópia 46 2022 36.º
3. Pula Fund Botsuana 3,8 1994 68.º
4. Nigeria Sovereign Investment Authority (NISA) Nigéria 2,5 2011 75.º
5. Fundo Soberano de Angola (FDSEA) Angola 2 2012 80.º
6. The Sovereign Fund of Egypt (TSFE) Egipto 2 2018 81.º
7. Fonds Souverain d´Investissements Strategiques (FGIS) Gabão 1,9 2012 83.º
8. Ithmar Capital Morocco Marrocos 1,8 2011 84.º
9. Fonds Souverain d’Investissements Stratégiques (FONSIS) Senegal 1,3 2012 87.º
10. The Ghana Petroleum Funds (GPFs) Gana 1 2011 91.º

Fonte:  Global SWF Data Platform, Janeiro 2024

O novo Fundo Soberano de Moçambique (FSM)

O Fundo Soberano de Moçambique (FSM), promulgado em Janeiro, terá o Banco de Moçambique como gestor e será constituído por receitas provenientes da produção de gás natural liquefeito das áreas 1 e 4, offshore da bacia do Rovuma, e de futuros projectos de petróleo e gás natural, assim como do retorno dos investimentos efectuados pelo próprio fundo.

A lei contempla que durante os primeiros 15 anos, 60% das receitas projectadas para cada ano fiscal sejam transferidas para o Orçamento do Estado e 40% canalizadas para o FSM e que, a partir daí, essa percentagem passe a ser dividida em 50%.

Sabendo, como refere o Governo, que “as exportações anuais do gás podem ascender a cerca de 91,7 mil milhões de dólares nominais ao longo do ciclo de vida do projecto” e que 40% ou 50% da receita reverterá para o fundo, isso significa, em termos simplistas, que o FSM tem potencial para entrar neste ranking dos maiores de África num prazo relativamente curto. Resta saber quando. (DE)

 

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