Moz24h Blog Sociedade Baleamento em Série de Polícias na Cidade e Província de Maputo: Queima de Arquivos ou Mera Coincidência?
Sociedade

Baleamento em Série de Polícias na Cidade e Província de Maputo: Queima de Arquivos ou Mera Coincidência?

 

Por Tiago J.B. Paqueliua

ÚLTIMA HORA – A manhã desta sexta-feira, 04 de Julho, foi pontuada por mais um episódio que reforça a narrativa de que, em Moçambique, a vida de quem enverga farda é tão descartável quanto os boletins de voto que se falsificam em tempo de eleições. Pelas 09h00, quatro homens – todos, ao que tudo indica, elementos ligados às forças policiais – foram abatidos a tiros na Matola, numa perseguição digna de filme de máfia suburbana.

No local, a TV Sucesso faz plantão, recolhe migalhas de informação e enfrenta o habitual muro de silêncio institucional: o Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC) lá está, de semblante sisudo, mas nada diz. Um manto de “segredo de justiça” que cheira mais a naftalina de arquivo morto do que a diligência investigativa.

Enquanto isso, o rumor galopa: seriam estes agentes peças descartáveis? Pagam agora o preço de terem sido, outrora, braços armados de um Partido-Estado que os soltou como cães de guarda contra manifestantes pós-eleitorais? Entre balas e bastões, muitos destes homens foram, em tempos, heróis do regime – torturaram, calaram, sufocaram vozes que clamavam por transparência. Agora, calados para sempre.

Ironia das ironias, esta coreografia sangrenta acontece quando ontem mais dois policias foram metralhados com 54 tiros, depois de há dias haver sido também metralhados um oficial da mesma corporação. E uns vez que o ex-Comandante-Geral da PRM, Bernardo Rafael, já foi intimado pela Procuradoria-Geral da República, e murmura-se que o ex-ministro do Interior, José Pascoal Ronda, será o próximo a provar o fel das audições, pairam no ar mil e uma perguntas. Terá alguém decidido que é altura de cortar pontas soltas, de apagar da folha corrida quem sabe demais? Ou vivemos numa terra onde assassinos e assassinados se confundem na poeira de investigações inconclusivas?

Conclusão

No Teatro da República, onde se encenam golpes de Estado travestidos de democracia, a morte selectiva de polícias é um acto final que arranca aplausos silenciosos dos que conhecem os bastidores.

Diz-se que a justiça tarda mas não falha – mas em Moçambique, quando tarda demais, normalmente falha de propósito.

Entre um “SERNIC em campo” que nada diz, uma PGR que finalmente ergue as mangas, e uma nação anestesiada pelo medo, sobra-nos o consolo cruel de perceber que, às vezes, a História cobra com balas o que não se pagou em tribunais.

Não sejamos ingénuos: em Maputo, a coincidência raramente é inocente. E quando as balas começam a falar, é porque os arquivos ardem em silêncio.

A cada agente morto, um segredo enterrado. E assim se recicla a impunidade, ao som de sirenes que não salvam ninguém.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Sair da versão mobile