Oil & Gás

Comunidades do norte de Cabo Delgado ameaçam protestos enquanto TotalEnergies nega acusações e aposta em acordo com ADIN

Foto- Estacio Valoi:Palma comunidade

 

Por Quinton Nicuete e Estacio Valoi

Palma, Cabo Delgado – 03 de Setembro de 2025
O ambiente em Palma e nos distritos vizinhos do norte de Cabo Delgado volta a estar carregado de tensão. As comunidades locais, empresários e agentes económicos ameaçam decretar uma manifestação aberta a partir de 10 de Setembro, caso não obtenham respostas concretas da TotalEnergies e da Administração Distrital de Palma sobre alegadas práticas de exclusão ligadas à retoma do megaprojeto Mozambique LNG.

Comunicado Palma 2025-09-02 12.07

Num documento enviado à Administração de Palma, a comunidade acusa a petrolífera francesa de “isolar totalmente a vila de Palma”, transferindo empresas prestadoras de serviços para dentro do recinto de Afungi e deixando os pequenos negócios locais sem clientes nem oportunidades de trabalho. A carta denuncia ainda a falta de diálogo, lembrando que os representantes da Total falharam encontros anteriores e não responderam às 25 questões pendentes sobre a lei do conteúdo local.

Confrontada com as críticas, a TotalEnergies refuta categoricamente as acusações. O diretor-geral da empresa em Moçambique, Maxime Rabiloud, veio a público garantir que não há incumprimento de promessas:
“Não temos quebra de acordo com a população de Palma e agora estamos a fazer muito mais devido à retoma do projeto. Clarificamos o nosso compromisso de continuar a trabalhar com estas populações”, afirmou.

Segundo Rabiloud, a centralização das operações em Afungi é apenas uma medida logística necessária para garantir segurança e eficácia no reinício do projeto.

Em simultâneo, a multinacional anunciou a assinatura de um memorando de entendimento com a Agência de Desenvolvimento Integrado do Norte (ADIN), no valor de 10 milhões de dólares (cerca de 632 milhões de meticais). O acordo, elogiado pelo governo, visa criar postos de trabalho e dinamizar a economia de Palma e Mocímboa da Praia.

O presidente da ADIN, Jacinto Loureiro, saudou o pacto como “um momento de extrema importância”, enquanto o Ministro da Planificação e Desenvolvimento, Salim Valá, defendeu que o mesmo “vai reerguer as comunidades vitimadas pelo conflito”.

Apesar do entusiasmo oficial, o anúncio não convenceu parte da população. Fontes locais lembram que em 2013, ainda sob a liderança da Anadarko, tinham sido prometidos 2 mil milhões de dólares para o desenvolvimento rural, valores muito superiores aos agora divulgados.
“Obrigado pelas notícias… Parece pouco para Palma que a Total queira ajudar, só que os prejuízos das empresas são cinco vezes maiores. Onde estão as promessas antigas? Parece que só há troco”, lamentou um empresário local, que pediu anonimato.

A desconfiança cresce ainda mais pelo histórico da própria ADIN. Exemplo disso é a obra dos escritórios da agência em Nampula, que continua parada um ano após o lançamento da primeira pedra, devido a conflitos judiciais e falhas técnicas, conforme noticiado pelo O País. https://opais.co.mz/obra-da-adin-em-nampula-nao-saiu-do-papel-um-ano-apos-lancamento-da-primeira-pedra.

Enquanto a TotalEnergies insiste que está a reforçar o seu compromisso social e o governo celebra o novo memorando, as comunidades do norte de Cabo Delgado preparam-se para sair às ruas caso não sejam ouvidas.

O dilema mantém-se: será que os 10 milhões de dólares canalizados através da ADIN conseguirão reparar anos de desconfiança e perdas económicas? Ou o projeto de gás continuará a ser visto como uma riqueza cercada por muros de exclusão? Moz24h

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