Venâncio Mondlane assume candidatura à presidência da Renamo
O anúncio na sexta-feira, 12 de Janeiro, da candidatura1 , por Venâncio Mondalne, à presidência da Renamo, reforça a democracia interna neste partido, na medida em que evita que o presidente seja indicado, conforme a vontade de José Manteigas e de algumas pessoas próximas ao actual incumbente, o que abre espaço para um processo eleitoral interno no qual os representantes dos membros da Renamo nos órgãos vão poder votar no candidato com as melhores ideias. Mas também é um contributo para a democratização da sociedade. Entretanto, não deixa de ser preocupante que a candidatura tenha sido anunciada fora do partido e sem uma base de apoio partidário conhecida, pelo menos, publicamente.
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Já está. Quero anunciar abertamente sem medo, sem tremer, sem olhar para esquerda nem para direita, que eu, Venâncio Mondlane, membro sénior do partido, estou disponível para avançar como candidato à presidência da Renamo, no próximo Congresso”, disse Venâncio Mondlane, bastante ovacionado por um grupo de membros e simpatizantes da Renamo.
Venâncio Mondlane anunciou a sua candidatura na vila autárquica de Nacala-Porto, para onde tinha ido, supostamente para dar suporte ao edil local, Raul Novinte, que ficou 30 dias em prisão 1 domiciliária, na sequência de uma decisão judicial (com toque de processo político movido pela Frelimo), alegadamente por incitação à desobediência por ter liderado manifestações contra a fraude.
O anúncio é feito a seguir à polvorosa que a Renamo experimentou ou experimenta, depois de o porta-voz deste partido, José Manteigas, ter dito que Ossufo Momade era a única figura com perfil a candidato da Renamo às eleições presidenciais de 9 de Outubro próximo, assumindo que Momade é presidente do partido, mesmo com o mandato a terminar esta semana, fechando, dessa forma, as portas a mais quadros de se candidatarem à presidência da Renamo e, por essa via, à presidência da República.
Todavia, esta não é a primeira vez que tem que se forçar processos nos dois principais partidos políticos moçambicanos, nomeadamente na Frelimo e na própria Renamo.
Como escrevemos em edições anteriores, em 2014, durante o processo de sucessão de Armando Guebuza, o antigo secretário-geral da Frelimo, Filipe Paúnde, fechou as portas3 a mais pré-candidatos a candidato a Presidente da República. Houve acesos debates de dentro e de fora da Frelimo, com a sociedade a puxar para que se abrisse espaço para maispré-candidatos.
Na altura, a Comissão Política dirigida por Armando Guebuza tinha escolhido a dedo Alberto Vaquina, José Pacheco e Filipe Nyusi como pré-candidatos. Por pressão interna, sobretudo da Associação dos Combatentes da Luta de Libertação Nacional , abriu-se espaço para a entrada de mais dois nomes, nomeadamente Luísa Diogo e Aires Aly contra a vontade de Guebuza e Paúnde.
Dentro da Renamo, o falecido líder histórico, Afonso Dhlakama, em algumas ocasiões já enfrentou contestação interna, com vozes a defenderem a democratização do partido.
Em 2006 surgiu a Junta Nacional de Salvação da Renamo, um grupo que contestava a gestão do maior partido da oposição, alegadamente porque “esgota-se na liderança do partido”, personificada por Afonso Dhlakama. A Junta Nacional de Salvação6 da Renamo dizia, na altura, que não queria derrubar Dhlakama, mas atacar os desmandos praticados pela liderança do maior partido da oposição, como sejam a falta de transparência na gestão financeira, expulsões, demissões ou nomeações sem uma regra clara. Mesmo que a campanha contestatária nunca tenha conseguido destronar Afonso Dhlakama, acreditamos que contribuiu para ajudar a democratizar a Renamo.
Quem apoia a candidatura de Venâncio Mondlane?
Se há clareza sobre qual é a base de apoio de Ossufo Momade, que é, até onde se sabe, de pessoas próximas a si e com benefícios directos, incluindo as regalias que o Estatuto do Segundo Mais Votado com Assento no Parlamento, já não há clareza sobre quem apoia a candidatura de Venâncio Mondlane, para além de Raul Novinte, com quem Mondlane aparece no vídeo onde anuncia que vai enfrentar o seu chefe, que ficou com pouco tempo para convocar uma reunião do Conselho Nacional, o órgão deliberativo da Renamo, no intervalo entres os congressos.
“O povo apoia você. O povo quer que você seja presidente da Renamo”, disse Raul Novinte, anunciando o seu apoio a Venâncio Mondlane. Preocupa, todavia, o ambiente em que é feito o anúncio da candidatura, nomeadamente fora dos órgãos do partido.
As candidaturas feitas para o público são aquelas que são para cargos públicos. Esta candidatura tinha que ser anunciada dentro de órgãos próprios do partido e tinha que ter as pessoas de suporte porque quem vota são as pessoas desse órgão. Novinte tem o peso que tem na Renamo, mas o seu apoio a Mondlane pode ser entendido como uma mensagem de desagrado para com a actual direcção da Renamo, principalmente com Momade por ter andado em silêncio depois do cerco da justiça.
Uma candidatura anunciada fora de Maputo
Venâncio Mondlane é uma pessoa do sul, teoricamente com bases em Maputo e na zona sul. Antes do anúncio da candidatura, há vozes que diziam que o facto de ser do sul jogaria a desfavor do cabeça-de-lista da Renamo nas últimas eleições autárquicas. Anunciar a candidatura na província de Nampula, que é a província mais populosa do país, pode ser uma estratégia que visa duas coisas: medir osníveis de popularidade, mas também buscar mais simpatia junto do eleitorado do norte e centro do país.
Ossufo Momade ficou com pouco tempo para convocar o Congresso ou Conselho
Nacional
Segundo o calendário eleitoral divulgado há dias pela Comissão Nacional de Eleições, as candidaturas à presidência da República devem ser submetidas de 22 de Abril a 7 de Maio. Ossufo Momade ficou com cerca de três meses para convocar o órgão que vai eleger o presidente da Renamo, que depois será candidato a PR.
Apesar de o anúncio reforçar a democracia interna na Renamo e na sociedade, é preocupante que a candidatura tenha sido feita fora dos órgãos da Renamo e não ter uma base de apoio conhecida, pelo menos publicamente. A ausência de apoio interno, sobretudo daqueles que votam, pode condenar a pretensão de Mondlane ao fracasso. (CDD)