Telvino Manuel Benedito teria saído de casa na sexta-feira, 1 de Dezembro, para um encontro com o administrativo da escola onde trabalhava, supostamente para receber o dinheiro que lhe tinha sido descontado ilegalmente. Infelizmente, o professor de 32 anos não mais voltou para casa.
O Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC) na Zambézia confirmou na segunda-feira, 4 de Dezembro, o assassinato 1 de um professor que em vida respondia pelo nome de Telvino Manuel Benedito. A vítima encontrou a morte na madrugada de sábado, 2 de Dezembro, no distrito de Mocuba, na província da Zambézia, centro de Moçambique.
Segundo a viúva, citada pela TV Sucesso, o esposo teria saído de casa na manhã de sexta-feira, 1 de Dezembro, para um encontro com o administrativo da Escola Primária Muedamanga, onde trabalhava, supostamente para receber o dinheiro que lhe tinha sido descontado ilegal e injustamente. Infelizmente, o professor, de 32 anos, não mais voltou para casa. O seu corpo foi encontrado numa mata com sinais de esfaqueamento.
Telvino Manuel Benedito denunciou, através de um vídeo posto a circular nas redes sociais da “internet”, um esquema de extorsão dos professores liderado pelos chefes da Zona de Influência Pedagógica.
“Venho por este meio denunciar2 o coordenador da ZIP 8 Muedamanga. Este coordenador tem vindo a fazer descontos desde Fevereiro de 2023.
Pedimos relatório para podermos perceber os descontos e sempre nos deu relatórios falsos, alegando que são faltas, mas quando fomos a Quelimane, tivemos o relatório real que indica que o coordenador retira o salário dos colegas e põe na pensão alimentícia de colegas que não têm nenhum caso no tribunal e depois se beneficia do mesmo”, este é um excerto do vídeo de 17 de Outubro que pode ter custado a vida de um professor que, cansado de extorsão, decidiu quebrar o silêncio e sair em defesa do seu direito e do direito de milhões de professores que, um pouco por todo o país, sofrem descontos ilegais.
Os professores encontram-se num nível alto de vulnerabilidade, dada a influência exacerbada dos directores das ZIP. Segundo denunciou a vítima, há professores que chegam a receber 2,00 meticais por mês devido a cortes ilegais. Ele tinha um salário de cerca de 22.000,00 meticais, mas na sua conta bancária caíam apenas 2,00 meticais. Mais de 18.000,00 meticais do salário do professor eram canalizados para alimentos. Entretanto, o finado não tinha qualquer processo em sede do tribunal.
A máfia opera a partir da escola, mas pode ter um comando oculto entre os chefes a nível do distrito.
Na sequência da denúncia do esquema de descontos salariais indevidos, o finado estava a receber ameaças de morte.
O Serviço Nacional de Investigação Criminal na Zambézia confirma o assassinato e afirma que, antes de encontrar a morte, a vítima teria recebido uma chamada telefónica de um número estranho
[NR: segundo a esposa, o finado recebeu uma chamada do administrativo da escola] para um encontro alegadamente para tratar de assuntos remuneratórios, mas não se encontrou com a pessoa.
“Está no epicentro desta morte um problema financeiro que ele passava. Era descontado de forma recorrente e não tinha explicação clara”, disse à TV Sucesso Maximino Amílcar, porta-voz do SERNIC naquele ponto do país. E esclarece que o finado teria levado o caso à procuradoria provincial.
Segundo o SERNIC, há um nexo de causalidade entre o assassinato e as denúncias feitas pelo professor.
O comandante distrital da Polícia em Mocuba, Magide Sumaila, diz que há um detido em conexão com o caso.
Telvino Manuel Benedito pode ter pago pela própria vida a denúncia que fizera em 17 de Outubro sobre um esquema de extorsão.
O CDD condena este assassinato e exige uma investigação célere, isenta e independente que permita chegar aos autores morais e materiais deste crime bárbaro. O CDD espera que a detenção anunciada pela Polícia não seja uma estratégia de fuga para frente para confundir a opinião pública e proteger os verdadeiros culpados pelo assassinato do professor.