por Luis Nhachote*
A Frelimo tem desde os seus imemoriais tempos usado esta expressão como forma de fazer a ruptura com algo que considere pernicioso e prejudique a sua linha ideológica. Estruturalmente essas purificações sempre foram realizadas de forma bastante radical e referem agora aos momentos menos felizes da organização.
Os momentos históricos definem os elementos ideológicos de cada consulado e influenciam a acção do partido e do seu presidente. Chissano tentou-a por forma do julgamento de uma intentona, Guebuza por via do discurso contra o “deixa-andar” e Nyusi já na sua recta final o que vai fazer? A ACCLIN pode ter referido a necessidade de “purificação de fileiras” mas não sugeriu como isso deve feito.
Por outro lado o discurso da organização na voz do seu presidente é bastante adjectivante e emotivo é em si um exercicio de purificação de fileiras, mas que vai morrer nos aplausos e debates que se seguem mas não vai vingar.
Estes são outros tempos e a purificação de fileiras por isso impensável, pelo pluralismo de ideias, diferença de perspectivas e sendo por isso contra natura expurgar quem pense diferente. Corre a Frelimo atrás de algo que pela natureza lhe é estruturalmente impossível realizar: purificar-se.
O nível de adjectivação que o discurso da ACCLIN denuncia só encontra par com o nível de entronização e culto de personalidade com que se bafejam os presidentes da Frelimo de Chissano a esta parte “obreiro da paz”, “filho mais querido da pátria”, “…” os bajuladores, os lambe-botas e os tribalistas foram se especializando na adulação ao chefe, atitude que passou a ser tarefa-mestra na Frelimo e símbolo de uma comprometida militância.
Purificar hoje significa afastar todos aqueles que não concordam com a linha do Chefe ou que se arrisquem a questionar as medidas que a Frelimo toma ou os caminhos porque ela envereda. Quem não debate não vai saber o que é correcto ou útil à organização. Sem debate não há consenso e o consenso é imperioso em qualquer organização de massas. Um debate que não se faz, mais por ignorância do que qualquer outra coisa é: que ideologia os camaradas perseguem? Como se pretende atingir o desenvolvimento/eliminar a pobreza absoluta/reforçar a democracia e a inclusão/como garantir a unidade nacional? Entre outras tantas coisas que caracterizam o Moçambique de 2015 a esta parte.
Por exemplo na Matola ninguém questionou os factos que levaram aos eventos de 18 de março de 2023, entretanto não tarda ser-nos-à dado a assistir uma “marcha em saudação ao Camarada Presidente da Frelimo e a sua brilhante liderança”.
Assim purificar as fileiras pode levar à extinção da Frelimo porque ela se concentra, nos últimos tempos, a olhar para si e menos para o país e os seus problemas encaixando perfeitamente no caso da sabedoria popular de “entornar a água suja com a criança dentro” de tão distraída e ideologicamente perdida que está.
Afinal quem/o que é puro ou impuro?
*Nacionalista fervoroso