Paulo Julião (texto) e Luísa Nhamtumbo (vídeo), da agência Lusa *
Maputo, 22 jan 2024 (Lusa) – Os 65 autarcas moçambicanos eleitos em 2023 tomam posse em fevereiro e em Quelimane, a norte, Manuel de Araújo, presidente há 12 anos, admitiu à Lusa que chegou a pensar que isso não iria acontecer, mesmo sabendo ter vencido.
“Cheguei, cheguei [a pensar não voltar a tomar posse]. O que eu tinha medo era o preço que isso iria ter para mim, para a minha família, para a minha cidade, para os munícipes de Quelimane e para o país. Ia ter um preço”, diz, em entrevista à Lusa.
No cargo desde dezembro de 2011, eleito pela Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) e um dos rostos mais populares do maior partido da oposição, Araújo denunciou a fraude na contagem dos votos das eleições de 11 de outubro de 2023, responsabilizando a Comissão Nacional de Eleições, que em outubro anunciou a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder) vencedora em Quelimane.
Chegou a ser detido logo após a votação, mas viu em novembro o Conselho Constitucional proclamá-lo autarca reeleito na capital da Zambézia, após verificação das atas e editais, e de 44 dias de manifestações em Quelimane, mobilizando milhares de pessoas na rua contestando os resultados iniciais.
Tal como os restantes 64 colegas – mas só mais três são da Renamo, contra o total de oito ainda em funções -, o mandato começa oficialmente com a posse no dia 07 de fevereiro. Contudo, considera, o seu foi “tirado a ferro e fogo”.
Para trás fica a indefinição provocada pelos resultados anunciados pela CNE, enquanto a população na rua não os aceitava e Araújo tentava “manter o povo calmo”.
“Queriam arrebentar com aquilo”, reconhece, sobre a contestação após os primeiros resultados.
Diz mesmo que não seria possível ao candidato da Frelimo assumir pacificamente o cargo, se os resultados não fossem revistos: “Esse era o meu maior medo. Os quelimanenses não estavam dispostos a deixar isto passar. Eu conheço o meu povo, trabalho com eles há mais de 12 anos”.
Ainda assim, confessa estar orgulhoso que, contrariamente aos protestos pós-eleitorais em vários pontos do país, em Quelimane “não morreu ninguém”.
“Eu acho que é um recorde. Que eu saiba, em Moçambique nunca houve 44 dias de manifestações consecutivas sem violência”, conta.
Manuel de Araújo inicia oficialmente um novo mandato em 07 de fevereiro, mas desde dezembro que já tem a equipa de 11 vereadores a trabalhar, com cem dias para apresentar os primeiros resultados.
“Aqueles que depois dos cem dias não tiverem cumprido com as metas, serão demitidos (…) A expetativa é tão grande, tão grande, que não nos podemos dar ao luxo de esperar a tomada de posse, que é uma mera formalidade”, afirma.
Confessa igualmente que “como resultado da força da juventude e das mulheres” nas manifestações pós-eleitorais, acabou por modificar as propostas que apresentou na recandidatura.
“Porque foram eles que carregaram as marchas, foram eles que fizeram com que o Conselho Constitucional nos desse a vitória que a CNE e os tribunais nos tinham roubado”, assume.
Daí que a primeira medida que tomou, através da equipa e ainda antes de ser empossado, foi dividir…
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