(Pesquisa e Análise)
Militares Russos em Nampula Indiciam Regresso da Wagner depois de uma unidade militar Russa ter sido vista a desembarcar no porto de Nacala, na província de Nampula. militares, segundo fontes locais em número superior a uma centena, desembarcaram com armamento, incluindo armas (vários modelos da AK, de fabrico russo) e equipamento militar de vigilância diz a África Monitor Intelligence na sua mais recente edição
Segundo a agencia aparentemente, tratar-se-á de uma equipa de formação militar e o armamento destina-se às FADM. A unidade será composta por tropas especiais russas, Spetsnaz, mas a finalidade real da sua presença no país permanece por confirmar. A incógnita centra-se sobretudo na dimensão da unidade militar, demasiado extensa para companhia de formação, podendo indiciar empenhamento no terreno.
Os soldados agora desembarcados em Nacala podem, segundo algumas fontes, incluir mercenários da Wagner. O regresso do grupo paramilitar russo a Moçambique está em aberto no contexto da ofensiva russa no continente africano, para boicotar interesses norte-americanos e europeus e potenciando simpatias “históricas” de regimes africanos de origem comunista em relação a Moscovo.
A Wagner apoiou o esforço de guerra das FADM em 2019 e início de 2020, tendo decidido retirar-se após diversos episódios que traduziam a falta de condições operacionais em Cabo Delgado e revelando desconhecimento do inimigo.
A Wagner chegou a desembarcar 203 elementos, incluindo a tripulação de três helicópteros Mi171Sh e pessoal técnico para operação de drones. A inadaptação às condições do terreno, deficiente aquartelamento e a descoordenação entre as FADM e as unidades da Wagner ao nível do comando foram apontadas como as principais causas da inoperância da empresa russa, ao ponto de se retirarem para Nacala para reagrupamento.
O terreno e o modus operandi dos insurgentes, baseado no improviso e apoio local, alteraram os pressupostos dos mercenários russos. Dados com origem sul-africana reportaram na altura 11 mortos e 25 feridos entre os operacionais da Wagner
(AM 1275).
A Wagner acabou por ser substituída pelo Dyck Advisory Group (DAG) sul-africano que se manteve no terreno até ABR.2021, pouco antes da chegada das tropas ruandesas e do contingente da SAMIM (SADC).
Apesar da presença de nacionais russos em Moçambique ser reduzida, limitando-se a alguns investimentos nas indústrias extractivas, a actividade de militares ou paramilitares russos pode pressupor objectivos de segurança estática em virtude da alteração do actual quadro, com as novas perspectivas criadas pelo impulso das relações bilaterais e com a valorização e concorrência crescente na exploração de certos recursos minerais, tendo o respectivo centro nevrálgico nas províncias da Zambézia e Nampula, através do porto de Nacala.
Apontado em alguns meios diplomáticos como pivot de interesses russos, FN graduou-se em engenharia mecânica na Academia Brno Vaaz, na actual Rep. Checa nos anos 1980-1990, ainda sob a tutela da URSS; grande parte da elite militar moçambicana foi formada na URSS, nomeadamente na Academia Militar Vistrel em Moscovo.
Em NOV.2021, o vice-ministro dos Negócios Estrangeiro russo MIKHAIL BOGDANOV (MB) deslocou-se oficialmente a Maputo, onde ofereceu apoio militar e logístico e ainda formação no esforço de contrainsurreição em Cabo Delgado. MB reuniu com o PR FILIPE NYUSI (FN) e com o então PM CARLOS AGOSTINHO do ROSÁRIO.
As valências sobre as quais a formação iria incidir seriam inteligência táctica e operações especiais, tendo ficado em aberto o recurso a forças da Wagner. Como contrapartida, o governo de FN apoiaria as ambições russas no sector das indústrias extractivas de minério e hidrocarbonetos. Este assunto voltou a constar da agenda bilateral no encontro entre VLADIMIR PUTIN e FN em JUL, por ocasião da 2ª Cimeira Rússia-África.
A participação moçambicana ao mais alto nível na cimeira, numa altura em que a Rússia é alvo de sanções internacionais devido à invasão da Ucrânia, foi particularmente notada em meios diplomáticos ocidentais. A maioria dos restantes países representados ao nível de chefe de Estado eram ditaduras militares ou regimes anti-ocidentais.
Em AGO.2019, durante a visita oficial FN a Moscovo foram assinados diversos acordos por proposta do Kremlin:
Um acordo sobre protecção mútua de informações classificadas; Um acordo de cooperação entre os ministérios do Interior dos dois países; Um memorando de entendimento entre o Ministério dos Recursos Naturais e Ambiente russo e o Ministério dos Recursos Minerais e Energia moçambicano sobre cooperação técnica em geologia e utilização do subsolo;
O Instituto Nacional do Petróleo (INP) e a Empresa Nacional de Hidrocarbonetos (ENH), que representa o Estado nos diversos consórcios de petróleo e gás, assinaram um acordo de cooperação e um memorando de entendimento com a empresa petrolífera russa Rosneft, o mesmo acontecendo no sector da electricidade entre a Inter RAO Export e a Electricidade de Moçambique (EdM).
Em MAI-JUN.2022, a presidente da Câmara Alta do Parlamento russo, VALENTINA MATVIYENKO, visitou Maputo, com vista a acelerar o enquadramento jurídico bilateral e preparar o terreno para a Rosneft iniciar uma nova fase de operações em Moçambique na sequência da 5ª ronda de licenças de exploração que tinha sido lançada em 2014 no offshore. Grande parte da expansão internacional da Rosneft foi financiada pelo banco VTB, que, a par do Crédit Suisse, financiou a dívida contraída pela EMATUM que deu origem ao caso das “dívidas ocultas” que endividou o país em mais de USD 2 mil milhões e levou à suspensão de apoios do FMI e Banco Mundial.
Para além do interesse da Rosneft, um grupo de investidores russos criou a Tazetta Resources em 2010, a partir de uma empresa de capitais russos sediada no Vietname dirigida por EVGENY VOLOSOV, em parceria com a família do ex-PR ARMANDO EMÍLIO GUEBUZA, com o objectivo de extraírem areias pesadas na província da Zambézia. O grupo, com menos de uma dezena de expatriados russos, está em laboração desde 2019, cobrindo quatro áreas concessionadas na província de Zambézia, exporta directamente para o Vietname e China através de cargueiros detidos pelo próprio grupo (AM 1401).
Moçambique tem sido um dos países mais focados pelas campanhas de desinformação do regime russo em África, visando mais recentemente criar adesão à sua invasão da Ucrânia, responsabilizando pela mesma a NATO/ países ocidentais.
De acordo com um recente levantamento das referidas campanhas, realizado por entidades ligadas ao Departamento de Defesa dos EUA, uma campanha global de desinformação foi lançada em 2022, na semana seguinte à invasão da Ucrânia, incluiu o lançamento de perto de 23 milhões de mensagens nas redes sociais, através de contas novas e falsas. As mensagens destinavam-se a contrariar a condenação ocidental da invasão e criar a ideia de apoio à invasão russa.
Uma rede de propaganda ligada a YEVGENY PRIGOZHIN, próximo do PR russo e mentor do grupo Wagner, voltou a evidenciar-se após a invasão da Ucrânia, tendo Moçambique como um dos países-alvo. A operação envolve o recrutamento de intelectuais e outras figuras com presença nas redes sociais e em programas de TV e rádio, para divulgação de conteúdos produzidos através de órgãos de propaganda do Kremlin, como RT e Sputnik (AM 1349).
O nosso jornal soube de fontes em Nacala-Nampula que durante as ultimas semanas foram vistos militares russos pela cidade.
(AM/Moz24H)