A partir da reutilização de produtos agrícolas desperdiçados, nasce um projecto sustentável a pensar na saúde menstrual de milhões de mulheres que trabalham no mundo rural moçambicano. A ideia acaba de ser premiada numa competição de startups em Macau, China. A dupla empreendedora explicou à E&M a essência deste trabalho que está a captar atenções
A Maktub é uma startup moçambicana criada por dois jovens empreendedores com uma grande ambição: enfrentar os desafios da sociedade, através da valorização sustentável da cadeia de valor das culturas agrícolas. Como? Promovendo a utilização eficiente e sustentável de resíduos. A ideia foi distinguida numa competição, em Macau, legado português, hoje região administrativa especial da China.
Neide Ussiana e Sidney Mouga decidiram levar a sua empresa ao 929 Challenge, um evento co-organizado pelo Fórum Macau com universidades e diversas outras entidades, no sentido de desenvolver a criação de ideias de negócios que liguem a China e a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Nesta que foi a terceira edição, o concurso contou com cerca de 290 equipas, divididas em duas categorias, uma para universidades e outra para startups. E por entre tantas equipas, o que levou a Maktub a ser distinguida como a ´Startup Com Maior Impacto´?
“Nós desenvolvemos um projecto de aproveitamento dos resíduos agrícolas de determinadas culturas. No entanto, o nosso foco não foi tanto na componente agrícola, mas sim nas mulheres e raparigas em idade reprodutiva. Em média, 6,5 milhões de mulheres em Moçambique vivem nas zonas rurais e não têm acesso a informação, nem a meios financeiros para poderem adquirir produtos de higienização, quando se encontram no seu período menstrual”, explicou Neide. Foi neste contexto que surgiu a ideia distinguida na China. “Pensámos numa solução que mantivesse a dignidade, mas que fosse de baixo custo, fácil acesso e menor impacto ambiental, tendo em conta que desperdícios criam poluição”, detalhou Sidney. Resolve-se um problema social, no âmbito da saúde reprodutiva, promove-se a igualdade de género e a preservação do ambiente, “reduzindo o uso de plásticos e a poluição”.
Os absorventes são produzidos com base em produtos específicos de culturas agrícolas (cujos mentores preferem não divulgar).
“Trata-se de material que muitas vezes é descartado das plantas. Por isso, atacámos essa componente dos resíduos para produzir um material biodegradável”, esclareceu Sidney Mouga.
A estratégia consiste em produzir absorventes localmente e tentar manter o custo ao nível mais baixo possível. “Obviamente, temos também como estratégia interagir com organizações não-governamentais (ONG) e programas ligados à saúde sexual e reprodutiva”, concluiu Sidney.
A Maktub foi a única empresa africana a receber uma distinção no 929 Challenge e teve, ao longo do concurso, a oportunidade de conhecer vários especialistas e organizações que podem vir a ter um papel importante no desenvolvimento do projecto
O 929 Challenge é um concurso de startups que tem como objectivo reforçar o intercâmbio comercial e empresarial entre a China e os países de língua portuguesa. Este ano teve duas vertentes: uma para as universidades e outro para startups. (DE)