A ala conservadora do Politburo do partido no poder, Frelimo, poderá frustrar a candidatura de Celso Correia à presidência no próximo ano. O ministro do governo estabeleceu-se como sucessor de Filipe Nyusi, mas a sua posição como principal candidato está cada vez mais em perigo.
As aspirações presidenciais do ministro da Agricultura, Celso Correia, já não contam com o apoio total do seu partido. Parece haver oposição nos escalões superiores do partido no poder, Frelimo, contra a sua ascensão. A Comissão Política do partido, ou gabinete político (PB), planeia reunir-se nos próximos meses para avaliar os seus candidatos. Essa reunião poderá pôr fim às aspirações de Correia. Os 19 membros do OP temem que, se fosse pré-selecionado, o ministro e antigo presidente do Banco Comercial de Moçambique seria imparável, dados os seus vastos meios e influência sobre o comité central. Após essa fase de pré-selecção, o OP designará então o candidato do seu partido durante uma sessão formal em Março ou Abril.
PLANOS DIFÍCEIS
Há 10 anos que Correia tem trabalhado arduamente para polir a sua estatura como candidato à presidência com o apoio de Filipe Nyusi (ver caixa abaixo). Ele esforçou-se muito para ganhar a lealdade dos delegados no congresso do partido Frelimo em Setembro, durante o qual foi nomeado membro do PC. Ele também conseguiu ser eleito para o comitê central em 2012, depois de entrar na política apenas naquele ano.
No entanto, ser membro do CP não é uma passagem garantida para a presidência. O braço conservador da Frelimo, representado por apoiantes do antigo presidente Armando Guebuza, no poder de 2005 a 2015, poderá pôr fim repentinamente às aspirações do ministro.
Filipe Paunde, secretário-geral da Frelimo no governo de Guebuza, Verónica Macamo, presidente da Câmara no mesmo período e actual ministra dos Negócios Estrangeiros, e Margarida Talapa, presidente do grupo parlamentar da Frelimo no governo de Guebuza e actual ministra do Trabalho, fazem todos parte do movimento anti-Correia. acampamento. Para tentar conquistar a simpatia de Paunde, Correia promoveu a sua nora, Nilza Paunde, a Directora Nacional de Planeamento e Políticas e também a nomeou membro do conselho consultivo do Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural, que Correia dirige. . Nilza Paunde é esposa de Sérgio Paunde, filho de Filipe Paunde.
Apesar de não terem votos suficientes para anular a candidatura de Correia, esses números conseguem influenciar outros membros do grupo que, embora não apoiem Guebuza, também não apoiam Nyusi. Estes incluem o antigo secretário-geral da Frelimo, Manuel Tomé, o presidente da Câmara de Maputo, Eneas Comiche, o ex-secretário da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) Tomaz Salomão, o ex-primeiro-ministro Aires Ali, o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros de Guebuza, Alcinda Abreu, e o antigo ministro da Defesa, Alberto Chipande. Chipande apoiou a campanha de Nyusi em 2014, mas desentendeu-se gradualmente com o presidente durante os seus dois mandatos.
APESAR DE MEIOS CONSIDERÁVEIS
Em 2014, quando a Frelimo elegeu Nyusi como seu candidato presidencial, Correia – que viria a dirigir a campanha de Nyusi – já recorreu aos seus bolsos fundos para garantir votos no congresso do partido. Nyusi venceu por uma pequena margem na segunda volta a ex-primeira-ministra Luísa Diogo. Alguns, incluindo a antiga primeira-dama Graça Machel, que apoiou Diogo, consideraram que a competição tinha sido injusta.
O apoio inabalável de Correira durante o congresso valeu-lhe um assento ministerial sénior no governo de Nyusi em 2015. De lá até 2019, foi ministro do Meio Ambiente, Terra e Desenvolvimento Rural, passando a ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural em 2020. Seu cargo o coloca à frente do Fundo Nacional de Desenvolvimento Sustentável (FNDS), que recebe milhões de dólares de parceiros de desenvolvimento, como o Banco Mundial.
Correia usou o financiamento do FNDS para forjar uma imagem de um ministério eficiente, que resolve todos os problemas do governo. No entanto, o auditor-geral fez com que o presidente do FNDS, Cláudio Borges, seu afilhado, devolvesse ao fundo 100 mil dólares que considerou terem sido utilizados de forma inadequada.
FRONTEIRAS DA FRELIMO
A próxima reunião do PC irá selecionar três a cinco potenciais candidatos presidenciais. Os mais prováveis de serem escolhidos são: 1. Diogo, apoiado pela família Machel e por pessoas próximas do antigo presidente Joaquim Chissano, no poder de 1986 a 2005; 2. Salomão, apoiado por outro ramo do campo de Chissano; 3. Ex-ministro dos Negócios Estrangeiros José Pacheco, impulsionado pela ala Guebuza; 4. Comissário da Polícia Bernardino Rafael, apoiado por Chipande e outros membros da poderosa comunidade Makonde. 5. Jaime Basílio Monteiro, antigo ministro do Interior e actual secretário-geral do conselho de defesa e segurança nacional, 6. Samora Machel Junior, filho de Samora Machel (presidente de 1975 a 1986).
NYUSI’s PLAN B
Filipe Nyusi pretendia concorrer a um terceiro mandato presidencial, mas para que isso fosse possível teria de alterar a Constituição, que o limita a dois mandatos de cinco anos.
Os planos de Nyusi não foram retomados pela Frelimo, que está habituada a mudar de presidente desde a introdução da democracia multipartidária em 1994, e ficou sem possibilidades de fazer campanha para um terceiro mandato. Embora tenha havido uma alteração à constituição em Agosto para eliminar a obrigação de realizar eleições distritais em 2024, o artigo que limitava os mandatos presidenciais a dois permanece inalterado. Não poderão ser feitas mais alterações à Constituição durante mais cinco anos, a menos que sejam votadas por uma maioria de 75 por cento dos legisladores, o que a Frelimo não tem.
Sabendo que o seu objectivo de três mandatos seria uma vitória difícil, Nyusi tem preparado Correia para o suceder como plano de apoio. Contudo, nos seus 10 anos de mandato, o presidente fez numerosos inimigos dentro do seu próprio partido, especialmente entre os apoiantes de Guebuza. Guebuza acusa Nyusi de ter ordenado a prisão do seu filho Armando Ndambi Guebuza, que esteve envolvido no escândalo das dívidas ocultas de 2013 e foi acusado de estar envolvido no assassinato da sua irmã, Valentina Guebuza, oficial de inteligência morta pelo marido em 2016.
Nyusi não tem o apoio unânime da sua própria comunidade étnica, os Makonde, nem da poderosa família de Marina Pachinuapa e Raimundo Pachinuapa, próximos dos Guebuzas. Também não tem boas relações com a família Machel, cuja matriarca Graça Machel apoiou a candidatura de Diogo em 2014 e agora apoia o seu genro Samora Machel Junior. ( AFRICA INTELLIGENCE)