Josué Bila
Partimos do pressuposto de que todas as pessoas sabem que honrar aos pais é, de facto, uma obrigação da nossa existência humana, tal como o teólogo zimbabwiano Joshua Maponga pontua num vídeo que circula nas redes sociais. O vídeo, primeiro, foi consumido em língua inglesa. Posteriormente, chegou aos falantes de língua portuguesa por meio de uma tradução. Não esqueçamos de que Maponga se utiliza muitíssimo da sabedoria africano-israelita (história africana e bíblica) para as suas palestras e entrevistas profundas. Entretanto, como a maioria de nós não foi socializada naqueles conhecimentos, a nossa ignorância nos priva de compreender a profundidade das nossas glórias africanas, as quais, dificilmente, serão compreendidas sem uma hermenêutica afro-centrada da Bíblia. Confiar apenas nas sociologias é aceitar ser conduzido por um adolescente com apenas um olho. Esse reizinho é literalmente suspeito. Contexto: a Teologia de Maponga é aliada àquela defensora de que os povos da Bíblia são os pretos africanos tanto localizados no Antigo Testamento quanto as comunidades israelitas da Palestina (por favor: não estou a referir-me aos actuais árabes palestinos) e aqueles igualmente distribuídos pelas diásporas nos mapas do Novo Testamento, incluindo-se, no passado e no presente, os pretos da Oceania, e, mais recentemente, aqueles levados pelos escravocratas para as Américas, Europa e Ásia. Há trabalhos de vários pesquisadores (na História, Arqueologia, Genética…) que apontam que nós, os pretos, somos os verdadeiros filhos de Israel e não aquele Israel branco, de origem do leste europeu, porém, de cultura ocidentais. Estes conhecimentos não estão nas cabeças de muitos de nós, talvez porque fomos socializados para dominar e ironizar as “rapidinhas discursivas” do Presidente moçambicano Filipe Nyusi e do Presidente da RENAMO, Issufo Momade, respectivamente. O que passa disso não vemos “game”. Aliás, somos também grandes intérpretes daquelas “rapidinhas ideológicas” do ex-Presidente moçambicano Samora Machel. Fomos também socializados para responder aos interesses colonialistas, com as suas versões de cooperação pós-colonial, através dos comunismos e capitalismos, os quais em nada respondem aos desafios da “África real”. Por causa disso, somos um descaso existencial populacional ou mesmo um espetáculo social dos babaquaras. Quem quiser assistir aos grandes espetáculos de ignorância histórica sobre África, que tome um voo até ao meu país de origem. Como há muito vivo fora da terra mãe, já esqueci qual é o meu país de origem. Se o lembrasse, dir-vos-ia.
Deixemos o espetáculo dos babaquaras e voltemos a Maponga: todos nós, incluindo o teólogo Maponga, fingimos não saber e não queremos falar da maioria dos pais violentos, estúpidos, babaquaras, descuidadores e desencorajadores dos filhos. Aliás, podemos alistar aqueles que, literalmente, abandonam os filhos. Estou a usar uma linguagem sem diplomacia, em nome das vítimas de muita tolice, violência e descaso paterno – e mesmo materno – a que tenho/temos assistido.
No vídeo que circula, o teólogo Maponga “esqueceu-se” de que o ETERNO Deus que nos obriga a honrar os pais é o mesmo que inspirou o salmista a prometer que, àqueles que fossem rejeitados pelos seus próprios pais, acolher-lhes-ia e proteger-lhes-ia, asseverando o seguinte: “Ainda que meu pai e minha mãe me abandonem, o SENHOR me acolherá” (Salmo 27:10). Este versículo é uma grande revelação de que o Eterno já tivera, na sua Omnisciência, a previsão de que os pais estúpidos e violentos existiriam, razão pela qual deixa uma promessa consoladora aos filhos e filhas que fossem desprotegidos e violentados pelos seus pais babaquaras. Por qual razão os pregadores, educadores e pais não nos lembram deste Salmo ou de provérbios sobre o que lhes é obrigado por costume ou por lei? Talvez porque temos uma “cultura”, na qual as pessoas em posição de poder ou investidas de poder (paternal, eclesiástico, público-governamental…) não se responsabilizam ou não são responsabilizadas pelos seus atos violentos ou ilícitos. Talvez também porque criamos uma “cultura de medo” nas relações sociais do que relações democráticas. Temos uma “cultura” em que as pessoas desprotegidas e sem poder de mando podem ser responsabilizadas pelas suas ilicitudes do que as elites circunstanciais. Estas elites podem embrenhar-se nas suas pocilgas de violência contra o populacho, sem sanções sociais e nem consequências políticas – estamos nas garras dos babaquaras de todo estirpe.
Há muita mãe cujo maior bolo financeiro é aplicado na sua vaidade e nunca numa simples gramática para os filhos. As nossas e os nossos babaquaras ainda não perceberam que a vaidade copiada nas novelas e filmes corta o futuro técnico e intelectual dos filhos. Há muitíssimo pai que em cada 1000,00 (seja qual for o nome da moeda), 70% oferece às catorzinhas e marandzas (uma espécie de interesseiras materiais circunstanciais), deixando os filhos sem uma simples madioca ou couve. Há muito pai parvo e violento, cujos filhos, obviamente, nunca receberam o seu calor, amor e nem tão-pouco assistência social. Duvido muito que o ETERNO Deus puna um filho/uma filha que diga “já chega” e, consequentemente, tocar a sua vida, sem mais mendigar amor e cuidados dos pais. A crítica que levanto contra Moponga também reside nisso. Estes todos problemas, que estou a arrolar, não nos parecem graves, porque habituamos a violência e reproduzimo-la contra os desprotegidos. Somos violentos e (não) sabemos. Violentamos (in)conscientemente.
Lamento: conheço muitos babaquaras locais, de uma estupidez que brada aos Céus, que nunca cuidaram dos filhos. Mas, são os mesmos que reclamarão, futuramente, quando os filhos não lhes cuidarem com uma simples banana, no leito do hospital. É desses pais aproveitadores de que a Bíblia fala para honrar? Não sei. Honrar estúpidos e violentos, os quais abandonam os filhos? Não sei. Honrar “va ma kuma na swi upfili”? Não sei. Honrar irresponsáveis, os quais fingiram não ter filhos? Não sei. Honrar parvos sem agenda social para os filhos? Não sei. É muitíssimo provável que tenhamos pais que cometam esses crimes contra os filhos (sim, não cuidar dos filhos é um crime [não necessariamente no sentido carcerário] de/com implicações devastadoras na vida de uma criança que se tornará jovem e adulto), porque nas sociedades, como Moçambique, não há alargados mecanismos institucionais do Estado para que os pais sejam responsabilizados e nem tão pouco as famílias e comunidades cobram responsabilidades dos progenitores, na assistência social dos filhos.
Aconselho a não honrarmos aos babaquaras e violentos, porque, quanto mais os honramos, multiplicam-se e, consequentemente, podemos ter mais gerações de crianças abandonadas pelos pais. Responsabilizar os tolos é uma forma de resistência e de minimizar dores inter-geracionais de pessoas que nunca souberam o que é amor ou que é ser amado. Precisamos resistir contra a parvoíce e a violência paternas. É o que a nossa sociedade ainda não aprendeu. Resistir. Resistir. Resistir, com a intenção de não dar vez e nem espaço aos pais babaquaras e, simultaneamente, violentos!!! Isto se aplica à Política – é preciso resistir às elites políticas, que se untaram de parvoíce e de violência, as quais infernizam a sociedade através de sua estupidez (política). Sim, vamos dar um basta aos babaquaras!
Já chega. Já chega. Já chega!!!