Na actualização do relatório sobre as Perspectivas Económicas Mundiais (em inglês, World Economic Outlook Update), divulgado no final de Janeiro, o Fundo Monetário Internacional (FMI) previu que o crescimento do PIB na África Subsaariana deverá aumentar de uns estimados 3,3% em 2023, para 3,8% em 2024 e 4,1% em 2025.
A previsão para 2024 representa uma revisão em baixa de 0,2 pontos percentuais face ao relatório anterior, lançado em Outubro do ano passado. Segundo os analistas do FMI, esta descida está relacionada com a redução da estimativa do crescimento para a África do Sul em 0,8 pontos percentuais (de 1,8% para apenas 1%) devido ao avolumar dos constrangimentos logísticos, em particular nos transportes.
África Subsaariana: menos inflação, mais investimento e redução da dívida
No Media Briefing sobre a África Subsaariana, realizado a 5 de Fevereiro, o director do FMI para África, Abebe Aemro Selassie, mostrou-se mais optimista ao afirmar que “tal como divulgámos recentemente no World Economic Outlook Update, o que vemos na África Subsaariana é uma continuação da recuperação da actividade económica em 2024. Também pelo lado positivo, vemos que a inflação continua a desacelerar, tendo atingido o seu pico no início deste ano, visto que a inflação média está em torno dos 6%, o que é cerca de 4% pontos percentuais inferior à do início de 2023. O investimento interno e estrangeiro tem vindo a recuperar desde o ano passado, e por fim, do lado político, vemos os governos a fazerem um grande esforço para estabilizar a dívida pública”.
Apesar deste cenário favorável, o etíope Abebe Aemro Selassie reconhece que a expansão prevista de 3,8% para este ano é inferior ao potencial da região e que o ambiente externo permanece difícil. “As condições de financiamento globais, embora tenham diminuído, ainda são muito exigentes para a maioria dos países, tal como evidenciado pela pressão contínua sobre as taxas de câmbio. Os fluxos de capitais também permanecem modestos, apesar da emissão realizada há algumas semanas no Gana que marcou a sua reentrada no mercado de capitais, algo que também deverá acontecer proximamente com o Quénia”.
Na sua opinião, outro dos desafios prementes para a África Subsaariana em 2024 é o combate às alterações climáticas, tendo o responsável referido o exemplo, em termos elogiosos, do acordo celebrado entre Cabo Verde e Portugal que visa a conversão da dívida externa daquele país em investimento para acelerar a transição climática.
Economia mundial: mais China e Estados Unidos, menos Europa
Segundo o mesmo relatório do FMI, o PIB mundial deverá aumentar 3,1% em 2024, o que representa uma revisão em alta de 0,2 pontos percentuais face ao último Outlook. Esta subida é explicada, em grande parte, pela resiliência demonstrada pela economia dos Estados Unidos que deverá crescer 2,1% este ano (acréscimo de 0,6 pontos percentuais).
Também foram revistas em alta as previsões da China (mais 0,4) cujo PIB irá expandir 4,6%, percentagem abaixo da “fasquia” de 5% fixada pelo Governo chinês que se propõe a estimular a economia para acelerar o crescimento, ao passo que a Índia será o país mais dinâmico com 6,5% de expansão (mais 0,2 que a estimada em Outubro).
Em sentido contrário está a Europa. O FMI reviu em baixa a previsão de crescimento para 2024 para 0,9% (menos 0,3 pontos percentuais). A principal responsável é a Alemanha onde o PIB vai expandir apenas 0,5% (menos 0,4 pontos face a Outubro), conseguindo, apesar de tudo, inverter a contracção de 0,3% estimada para 2023. França, Itália e Espanha também viram as suas previsões revistas em baixa e deverão ter crescimentos modestos em 2024. O mesmo se verificará nas outras grandes economias como o Japão, Reino Unido e Canadá.
Contudo, a boa notícia, segundo os analistas do FMI, é que a queda da inflação está a suceder a um ritmo mais elevado do que o esperado (previsão é de 5,8% em 2024 e de 4,4% em 2025), o que fará descer as taxas de juro e os preços da energia, estimulando assim o investimento e o emprego.
“Lentas, mas resilientes” são as palavras que resumem as economias em 2024.
Como vão crescer as grandes economias de 2024 a 2025…
Índia 6,5% + 0,2 p.p. 6,5%
China 4,6% + 0,4 p.p. 4,1%
África Subsaariana 3,8% – 0,2 p.p. 4,1%
Média global 3,1% + 0,2 p.p. 3,2%
Nigéria 3% – 0,1 p.p. 3,1%
México 2,7% + 0,6 p.p. 1,5%
Arábia Saudita 2,7% – 1,3 p.p. 5,5%
Rússia 2,6% + 1,5 p.p. 1,1%
Estados Unidos 2,1% + 0,6 p.p. 1,7%
Brasil 1,7% + 0,6 p.p. 1,9%
Espanha 1,5% – 0,2 p.p 2,1%
África do Sul 1% – 0,8 p.p 1,3%
França 1% – 0,3 p.p 1,7%
Japão 0,9% – 0,1 p.p 0,8%
Itália 0,7% = 1,1%
Reino Unido 0,6% = 1,6%
Alemanha 0,5% – 0,3 p.p 1,6%
(*) Variação da previsão de crescimento do PIB face ao relatório anterior
(World Economic Outlook, Outubro 2023) em pontos percentuais (p.p).
Fonte: FMI World Economic Outlook Update, 31 de janeiro
Texto: Jaime Fidalgo