A fraude está patente nos resultados anunciados quinta-feira (26 de outubro) pela Comissão Nacional de Eleições. Na segunda parte desta investigação, analisamos o significativo enchimento de urnas e o roubo de votos da Renamo, que encontramos em 18 municípios – um quarto de todos os municípios.
Leitura dos números, Ler os números – 2
Dados da CNE mostram que 1/4 dos municípios tiveram enchimento de urnas ou roubo de votos da Renamo
A fraude está patente nos resultados anunciados quinta-feira (26 de outubro) pela Comissão Nacional de Eleições. Na segunda parte desta investigação, analisamos o significativo enchimento de urnas e o roubo de votos da Renamo, que encontramos em 18 municípios – um quarto de todos os municípios.
Não aceitamos a validade do tsunami da Frelimo anunciado pela CNE. Neste relatório especial, analisamos mais de perto os números da própria CNE, que publicámos em El-Aut-CNE. Na primeira parte desta investigação, analisámos as alterações feitas em segredo pela CNE.
Nesta parte, analisamos o enchimento de urnas e a retirada de votos à Renamo. Na terceira parte, mostraremos que as contagens paralelas mostram que a Renamo ganhou efetivamente em quatro grandes cidades – Maputo, Matola, Quelimane e Nampula.
Usando os números publicados pela própria CNE, descobrimos que este sério enchimento de urnas ocorreu em pelo menos seis municípios. Há uma forma visual de ver isto. O gráfico abaixo tem todos os 65 municípios e as duas dimensões são a afluência às urnas e a % do voto válido para a Frelimo:
Podemos ver que quase todos os municípios estão num quadrado com uma participação entre 40% e 70% e os votos para a Frelimo entre 40% e 90%. Mas, seis assembleias de voto, no canto superior direito do gráfico, destacam-se. Estas têm uma afluência às urnas superior a 70% e uma votação elevada na Frelimo. As duas no canto superior direito têm um recorde – Massingir (87% de participação, 97% Frelimo) e Dondo (87% de participação, 78% Frelimo). Massingir, em Gaza, sempre se orgulhou de ter quase todos os eleitores recenseados a votar na Frelimo, mas isto sempre foi reconhecido como enchimento de urnas. Dondo é famoso pelo enchimento das urnas em 1998, quando não havia oposição por causa do boicote da Renamo. Como poucas pessoas apareceram, as urnas foram enchidas. Isto tornou-se um hábito.
Fizemos uma contagem paralela este ano em Marromeu (81% de afluência às urnas, 80% da Frelimo) e registámos o número de votos no quadro negro, onde a pontuação é mantida durante a contagem, o que dá o registo mais exato. Verificámos que os editais oficiais inflaccionaram a votação em mais de 3000 votos em comparação com o quadro negro.
Os outros três, no canto superior direito do gráfico, são Chitima (84%, 97%), Caia (77%, 87%) e Nyamayubue (77%, 87%).
No total, estimamos que nestes seis municípios, a votação da Frelimo foi inflaccionada em mais de 17.000. Mas, a questão é muito maior – podemos ver que 9% de todos os municípios inflaccionaram escandalosamente os votos da Frelimo.
A outra fraude importante que pode ser vista a partir dos números da CNE é tornar os boletins de voto da Renamo inválidos (nulos), acrescentando uma marca extra ao boletim de voto, ou simplesmente movendo os votos da Renamo para nulo no edital. A verificação deste facto é procurar municípios com altas percentagens de nulos. Os mais extremos são Isaca, com 7.3% e Angoche, com 7%. Se olharmos mais de perto para os resultados da CNE, vemos que quase todos os municípios têm entre 1,5% e 4,5% de votos nulos. Mas, 12 municípios têm nulos de 4,8%, ou mais, o que indica alguma falsa invalidação de votos. No total, encontrámos 4.580 votos acima de 4,5%.
A fraude ocorre nas assembleias de voto. Quando olhámos para as mesas de voto individuais, na contagem paralela para Maputo e Matola, encontrámos 12.500 votos retirados à Renamo. (Boletim 160, 21 de outubro) As estimativas que estamos a fazer aqui analisam municípios inteiros, por isso só identificam fraudes tão graves e que ocorrem em assembleias de voto suficientes para afectar, obviamente, os resultados municipais, tal como reportados pela CNE. Encontrámos 6 municípios com enchimento de urnas a favor da Frelimo e 12 municípios com boletins de voto, provavelmente da Renamo, a serem declarados inválidos. O que é chocante é que este nível de fraude é mostrado pelos próprios dados da CNE em 18 municípios – um quarto dos municípios.