Invasão seguiu-se a um intenso confronto com os insurgentes que foi interrompido horas depois devido à falta de munições por parte da milícia
A invasão, que se seguiu a um intenso confronto entre a milícia e os insurgentes, ocorreu na segunda-feira, 8, mas o combate foi interrompido poucas horas depois devido à falta de munições por parte da “Força Legal”, integrada por antigos veteranos da luta de libertação nacional.
“Foram abatidos 10 insurgentes, mas não conseguiram fazer assalto devido a insuficiência de munições tiveram que recuar. Abateram um grande número, estava a se ver, era uma distância muito curta”, contou à Voz da América um membro da “Força Local”, que pediu o anonimato.
A fonte disse que a milícia usou duas armas sofisticadas na invasão, o que permitiu resistir à resposta dos insurgentes, que mais tarde abandonaram o esconderijo, levando os feridos e enterrando os corpos.
“Uma arma era uma metralhadora e uma RPG7 e as restantes eram essas armas pequenas, mas como munições para a força local tem sido um problema muito sério, então não conseguiram fazer assalto naquele local”, lamentou a nossa fonte, anotando que houve destruição no esconderijo.
Decapitações
Esta invasão ocorreu um dia depois de os insurgentes terem raptado e decapitado pelo menos cinco jovens mulheres na aldeia Namaluco, no interior de Quissanga, durante as celebrações do Dia da Mulher Moçambicana, comemorado a 7 de abril, segundo várias fontes locais.
No dia anterior, 6, os insurgentes terão ferido um jovem na mesma aldeia de Namaluco, reacendendo a insegurança e o medo.
Entretanto, os insurgentes foram vistos a circular nesta quarta-feira, 10, na aldeia Cagembe, e estão a movimentar-se divididos em grupos maiores, de até 50 homens, a caminho de Macomia, de acordo com vários relatos de moradores à Voz da América.
A Polícia em Pemba não respondeu de imediato ao nosso pedido de comentário sobre a nova movimentação dos grupos insurgentes e as decapitações na aldeia Namaluco.
Ameaças
Ainda segundo várias fontes locais, os insurgentes lançaram novas ameaças de escalada de violência com o fim do Ramadão, durante o qual os muçulmanos praticaram o seu jejum ritual.
Entretanto, o analista moçambicano, Tobias Zacarias, que estuda a insurgência em Cabo Delgado, observa que esta ameaça de insurgentes não pode ser vista como mera propaganda, uma vez que os grupos têm feito nova movimentação.
“A partir de segunda-feira há informações dos insurgentes terem descido na área de Mucojo, no litoral de Macomia, para Quissanga. Significa que eles já estão a descer, sendo que não é mera propaganda”, explicou à Voz da América, Tobias Zacarias.
O também docente universitário anota que a nova liderança dos insurgentes tem mostrado ataques mais coordenados, com rituais próprios nas decapitações, o que tem merecido a “glorificação” do Estado Islâmico, cabendo as tropas moçambicanas travar a ameaça.
“Pode estar a querer concretizar aquela chamada de janeiro, de ‘jihad contra todos os infiéis’, então isso significa que podemos estar não apenas perante uma ameaça, mas sim a concretização de um sonho do Estado Islâmico”, de transformar Cabo Delgado em califado, enfatizou.
Por sua vez, Dércio Alfazema, diretor de programas do Instituto de Democracia Multipartidária (IMD), entende que a ameaça da escalada da violência pode comprometer seriamente o recenseamento eleitoral, já problemático devido à insegurança. (VOA)