Centenas de jovens garimpeiros intensificaram, nos últimos meses, a mineração de rubis num depósito da Montepuez Ruby Mining (MRM), que reclama o aumento das invasões nas suas minas em Cabo Delgado, e especialistas reafirmam que estes recursos são uma das fontes da insurgência, que dura há seis anos no nordeste de Moçambique.
A MRM tem estado a notar um aumento da atividade de mineração ilegal, escreve a firma em comunicado que a VOA teve acesso, realçando que uma escavação desabou na noite do 24 de Dezembro último, matando um mineiro ilegal, de 31 anos, de nacionalidade tanzaniana.
“Este é o terceiro incidente grave envolvendo mineiros ilegais no mês de Dezembro. Os dois anteriores resultaram em ferimentos de oito agentes de segurança e três mineiros ilegais”, anota a mineradora.
Entretanto, investigadores e especialistas moçambicanos que estudam o conflito em Cabo Delgado sugerem que a atividade mineira ilegal esteve sempre enquadrada na economia política da região, mas que foi interrompida repentinamente empurrando muitos jovens para a pobreza, causando a atual revolta.
Corte no acesso a recursos
O pesquisador João Feijó, observa que umas das causas da insurgência em Cabo Delgado é a usurpação por grandes empresas dos principais recursos naturais e mineiros, de que dependia a população, que, no entanto, se revoltou e tenta explorar de forma ilegal as pedras preciosas para alimentar a revolta.
“Ali aconteceu um problema: no início deste milénio uma grande parte da juventude envolveu-se em actividades furtivas, garimpo, madeira, marfim, e houve uma rotura muito rápida ou abrupta com isto, e cortou se a possibilidade de muitos jovens poderem ter rendimentos num cenário em que a agricultura e a pesca não são uma alternativa viável”, diz Feijó à VOA.
O também sociólogo e coordenador do Observatório do Meio Rural (OMR), que estuda o conflito, diz que o corte no acesso aos recursos criou um sentimento de revolta que alimenta a insurgência, na medida surgem grandes projetos, “que não são absorvidos pelos locais”.
“Então é preciso pensar bem no fenómeno de distribuição dos recursos, como a mineração artesanal através de senhas mineiras e compensar melhor a população já sofrida com a usurpação”, sugere Feijó, que recorda que as diferenças no acesso aos recursos reproduziu a pobreza em Cabo Delgado e deixa muitos jovens vulneráveis a aderir a grupos violentos.
Outro analista, Wilker Dias, que acompanha o conflito, afirma que “existem várias fontes para alimentar o terrorismo, e o garimpo é uma delas (…) é importante que haja maior vigilância no contrabando de pedras preciosas”.
Cabo Delgado, rica em gás natural e minerais raros, enfrenta ataques de grupos armados ligado ao Estado Islâmico desde 2017, sendo que os mesmos já se expandiram para 13 dos 17 distritos daquela província do norte de Moçambique.