O programa Energia para Todos de Moçambique fez grandes progressos no extremo norte de Moçambique, mas nem todos estão satisfeitos com ele. Buanamade Assane investiga
A população do distrito de Metoro na provincia nortenha de Cabo Delgadlo encara a central fotovoltaica inaugurada em Abril deste ano pelo Presidente da República Filipe Nyusi com certo ceticismo por nao sentirem o beneficio directo na medida em que esperavam alguma redução do custo de energia.
Metoro e no coração do mesmo distrito- território que dista a 90km da cidade de Pemba a capital da provincial de Cabo Delgado onde foi construida a central fotovoltaica que ocupa uma área de 144 hectares de terras parte das quais outrora machambas das populações que foram compensadas para dar lugar aquela infra-estrutura energética e, também constitui o eixo rodoviário que liga o distrito de Montepuez -seus rubis, ouro e outros minerais at’e ao extremo norte a fronteira da Tanzania, a sul leva nos a provincia de Nampula.
Entretanto, os 41 megawats de energia electrica da fotovoltaica ali produzidos, são drenados na Subestação local da rede nacional de fornecimento de energia electrica produzida pela Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) a qual alcançou, nos primeiros seis meses deste ano 2023 , uma produção de 8.013,6GWh, cifra que supera o plano de produção semestral em 14,8 por cento e em 0,6 por cento, se comparado com o igual período de 2022 “supera plano de produção de energia” ‘e onde esta integrados os parcos 41 megawats formando assim o circuito geral de distribuição para os diferentes consumidores.
No mesmo comunicado de imprensa da Hidroeelctrica publicado em Marco deste ano, a mesma refere que “Ao mesmo tempo, a HCB colocou em carteira a perspectiva de realização de projectos de produção de energia, de curto e médio prazos, através de fontes alternativas, com destaque para a construção de uma central fotovoltaica de até 400MW, com possibilidade de evoluir no futuro”. frisa a fonte, citada num jornal local “Notícias”.
A longo prazo, acrescenta o comunicado, “a empresa está a conduzir reflexões estratégicas com vista à reactivação do projecto [central hidroeléctrica] Cahora Bassa Norte, para atender à crescente demanda energética de Moçambique e da região, face à crise que se vem assistindo”.
Em relação aos recursos hídricos disponíveis, a empresa encerrou o primeiro semestre de 2023 com armazenamento em 92,5 por cento do seu volume útil, correspondente à cota da superfície de água na Albufeira de 324,5 metros em relação ao nível médio das águas do mar, e “afigura-se satisfatório para garantir a produção orçamentada até o final do ano, estimada em 14.291,6 GWh”.
Com os 41 megawats de energia elétrica solar ali produzidos na substacao de Metoro integrados na rede nacional da Cahora Bassa, pouco ou quase nada mudou para o beneficio da populacao qeu continua a pagar o mesmo ou mais alto pela energia electrica
A central solar de Metoro custou 56 milhões de dólares americanos (equivalentes a 3.640.000.000MT (três biliões seiscentos e quarenta milhões de meticais), num investimento da distribuidora nacional de energia elétrica, EDM, em parceria com NEON, uma companhia francesa, partilhado em 25% e 75%, respetivamente. E foi concebida para beneficiar 140.000 pessoas.
Centrais movidas a energia solar em Cabo Delgado
Fonte: Conselho Dos Serviços de Representação do Estado, Serviços Provinciais de Infra-Estrutura
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Dívida pública
Trata-se de um investimento que “aperta mais a cintura” dos moçambicanos, pois eleva ainda mais a divida publica, tendo em conta que 40 milhões de dólares foram obtidos a titulo de empréstimo concedido pela Agencia Francesa de Desenvolvimento – AFD- e o restante foi a da contribuição do Governo moçambicano. Todavia, a central reverter-se-a à EDM 25 anos depois.
Em Metoro, tanto empresários como simples cidadãos defendem que, pelo facto daquela infra-estrutura estar instalada naquele posto administrativo do distrito de Ancuabe, a EDM, única empresa que detém o monopólio de distribuição de energia elétrica a nível nacional, devesse estipular preço baixo em relação a outros pontos da provincia, como responsabilidade social.
Informações divulgadas durante a cerimonia de inauguração dão conta que, na fase de construção da central solar, foram criados 400 postos de trabalho, sendo que 90% de mao-de-obra foi local mas o Casal Arlino, que reside a sensivelmente 50metros de um dos portões da central fotovoltaica declarou não ter benefícios advindos daquela infra-estrutura energética, não obstante ter “comido” muita poeira durante a fase da construção resultante do movimento das viaturas.
“Eu sou pedreiro de longa data mas não fui convidado a trabalhar na central, talvez porque sou velho mas tenho meu filho jovem que nem teve acesso ao emprego. Acompanhei que terminou e nem tenho energia elétrica. Estamos aqui a viver as escuras” – declarações do casal Arlindo, cuja entrevista foi arrancada a “ferro”, alegando recear represálias de superiores.
According to FUNAE, the expansion of green energy is gaining ground in Cabo Delgado. Photo: Buanamade Assane
Energia para Todos
O Chefe do Estado moçambicano Filipe Jacinto Nyusi, aquando da inauguração, teria afirmado que a central de Metoro constituía um catalisador da continua expansão da eletrificação dos postos administrativos, no âmbito de Projeto energia para Todos, beneficiando escolas, unidades sanitárias e a dinamização a economia local.
Disse tambem que a central de Metoro é marco importante na concretização de projetos de energias renováveis de média escala, ligados à Rede Elétrica da EDM, representando 25% da energia que será consumida na região norte do país.
Refira-se que outro projecto de média dimensão, que será construído em Mecúfi, para drenar a energia na rede nacional da EDM, está em “banho-maria” por razoes financeiras.
Uma informação disponibilizada pelo Serviço Provincial de Infra-estruturas, refere que Cabo Delgado possui 3 centrais fotovoltaicas publicas, de menor dimensão, que produzem 333Kw.
Ainda em Metroro, dois empresários, falando em anonimato, manifestaram a sua antipatia por aquela infra-estrutura e argumentaram que não sentem os benefícios resultantes desta. “Estou a pagar a mesma tarifa que vinha pagando antes desta central mas os nossos tios, irmãos foram obrigados a deixar as suas machambas a troco de valores míseros para dar lugar a construção dessa central” – afirmou um operador do comercio geral.
“Com ou sem essa central, nós vínhamos consumindo a energia elétrica da hidro-elétrica de Cahora Bassa e os preços praticados não mudaram. Assim o que valeu termos cá a central solar? Nós esperávamos que todos os residentes de Metoro teria energia barata mas nos enganamos. Assim, significa que não tem vantagem para nós” – asseverou um empresário do ramo de hotelaria.
Ainda no campo de exploração de energias verdes, a Twigg Exploration and Mining também instalou uma central com a capacidade de 10.25MW para suprir as suas necessidades energéticas(BA)
Agricultural engineer Icbal Morripa at a charcoal oven in Metoro. The solar plant needs to be protected against uncontrolled burning, he says. Photo: Buanamade Assane
Metoro é um posto administrativo do distrito de Ancuabe, onde uma infra-estrutura energética com a capacidade de gerar 41 megawats, já apresenta sinais de ameaça ao meio ambiente.
Implantada numa área de 144 hectares, a central fotovoltaica compõe-se de 121500 painéis solares de dimensões maiores, montados em lotes, constituindo coletores de águas da chuva.
No recinto da central, foram construídas valas de drenagem que conduzem as ‘aguas pluviais aos descargadores que as evacuam para o exterior de forma indisciplinada onde vai abrindo crateras profundas ao longo do seu percurso a “construir” ravinas em torno da cintura daquela infra-estrutura que, entretanto, faz menos de um ano ela está paralisada por alegados incêndios florestais descontrolados que afetaram parte do equipamento.
Um Engenheiro Agro-pecuário é de opinião que o projecto deveria ser concebido de forma a colectar as aguas, juntar num espaço (represa) para abastecimento da população ou irrigação de campos agrícolas.
“Olha, a construção da central iniciou em 2020 e concluída no ano seguinte mas já produziu este tamanho de ravinas. O que se pode questionar é o que será daqui a 5 ou 10 anos? Então, urge tomar precauções cedo, antes que seja tarde porque na área circundante existem machambas da população e as pessoas poderão ver-se mergulhadas em dificuldades de atravessar as profundas ravinas para alcanças assuas machambas, tendo em conta factor idade ou condição de saúde” – defendeu Icbal Morripa.
Noutro passo, a fonte observou que è preciso ter em conta que Metoro é um posto administrativo com recursos hídricas escassos de tal modo que os titulares da central poderiam ou devem projetar uma forma de armazenamento do precioso liquido, ora despejado, para servir a população.
Por outro lado, a construção de um sistema de armazenamento, como uma represa, poderia incentivar a produção de hortícolas à volta da central, o que constituiria uma cintura de proteção contra as queimadas descontroladas, para evitar situações de paralisação como está a acontecer agora” – opinou Morripa.
Energia solar desponta o desenvolvimento de NGÃPA
Com a entrada em funcionamento da central fotovoltaica de Ngãpa, no distrito de Mueda em Abril deste ano, os habitantes já se enchem de expectativas em ver o seu posto administrativo em níveis mais altos de desenvolvimento socio-económico.
Trata-se de um sentimento que cobre tanto a população como as autoridades locais que classificam aquela infra-estrutura económica como um instrumento para inverter a dispersão dos parcos recursos financeiros públicos e privados, uma vez que, tanto o Estado assim como as famílias, cada um batalhava isoladamente para resolver o seu problema.
A central fotovoltaica de Ngãpa produz 200Kw e foi projetada para 800 ligações domiciliarias, estando atualmente a 50 porcento, e teve um custo de 12 milhões de meticais sob financiamento do FUNAE (Fundo Nacional de Energia).
Muanajuma Abdala, Armando Mussa Laia, Laura Racide Assumane, são residentes das imediações da central fotovoltaica de Ngãpa e defendem que os impactos socio-económicos e ambientais são positivos pois que essa proximidade da central não incomoda as famílias assim como a comunidade local porque se trata de energia limpa.
Muanajuma justifica a sua satisfação apontando o preçário praticado, níveis de consumo e a descriminação positiva.
“Agradecemos a instalação desta energia solar, sobretudo pelo preço praticado porque tem em conta da idade do consumidor, aqueles que têm electro-domésticos, etc. Assim temos rádios, televisores, congeladores. Na minha casa, eu tenho radio, televisor e faço recargamento de telefones. A minha vida mudou muito” – avaliou Muanajuma.
No mesmo diapasão, Armando Laia e Laura Assumane, descrevem a central fotovoltaica como uma alavanca de desenvolvimento e sublinham que já saíram do primitivismo para o modernismo, produtos pesqueiros e pecuários frescos eram escassos por falta de meios de conservação.
“Esta energia trouxe alegria. Agora vivemos bem. Para aqueles que têm congelador, conseguem trazer peixe fresco, frangos que compram em Mueda para aqui, para vender. Que tem televisão assiste muita coisa, acompanha noticiário e acompanha tudo aquilo que acontece no país e fora” – declarou Laura, avançando que outrora, o acompanhamento dos acontecimentos do país obedeciam circuitos primitivos, pois dependiam do regresso de quem que fosse a vila sede para reproduzir verbalmente.
No que tange aos impactos económicas, observa-se o alargamento da atividade comercial que conta com uma gama de produtos frescos, como peixe e frango, e ainda de bebidas e refrigerantes gelados,
Ija Mussa e Kane Armando são dois comerciantes, com estabelecimentos no mercado local, e afirmam empolgados com as suas atividades que são impulsionados pela energia solar.
Os dois referem que outrora, o comercio era comandado pelos raios solares, uma vez que o mercado encerrava às 17horas.
“Eu vendo peixe freco e frangos em peças, o atum e carapau compro em Montepuez enquanto o peixe pedra em Mocimboa da Praia” – afirmou Ija enquanto o Kane sublinha o facto de ter clientela ate por volta das 22 horas.
Chefe do posto administrativo Paulo Samuel Nankulanga descreve Ngãpa como uma região potencialmente rica para o desenvolvimento de atividades agro-pecuárias é habitada por uma população jovem e batalhadora, tendo em conta que, do pouco tempo que a central fotovoltaica entrou em funcionamento, aquele território respira outro ambiente económico, caracterizado por intensa atividade comercial.
Nankulanga sublinha que as culturas de milho, mandioca, amendoim, feijões e outras, tendo o gergelim e a castanha de caju como de rendimento.
“Antes, vivíamos como os nossos antepassados no posto administrativo de Ngãpa mas, hoje, algumas coisas mudaram porque já usamos energia solar. A população agora usa agua gelada, congela os seus produtos que lhe convém, e faz negocio através de energia, a população assiste televiso estando em Ngãpa, acompanha o noticiário, e vê o total de todo o do país e do mundo estando em Ngãpa” – descreu Paulo Nankulanga, avaliando os benefícios que a energia trouxe naquele ponto de Cabo Delgado.
The Ngãpa plant powers three health units in the district. Photo: Buanamade Assane
Alavanca para o desenvolvimento
Em Ngãpa, a rede telefonia movel já funciona 24 horas, o que antes acontecia em determinados períodos devido aos elevados custos operacionais da operadora derivados de funcionamento à base de um gerador a diesel.
Por outro lado, o governante referiu que a prestação das 3 unidades sanitárias que o posto possui melhorou porque existem condições de conservação das vacinas e assistência aos partos noturnos nas maternidades.
O posto administrativo de Ngãpa dista a 56 km da vila de Mueda e a central fotovoltaica de Ngãpa foi edificada num espaço que durante o tempo de luta de libertação nacional foi pista da viação do exército colonial(BA)
Norte Luali, director of Provincial Infrastructure Services in Cabo Delgado. Photo: Buanamade Assane
Na escuridão
O posto administrativo de Negomano, que dista a 185kmda vila sede de Mueda, continua às escuras e a perspetiva da chegada da rede nacional de energia apresenta-se remota decorrente da distancia e aos elevados custos de extensão da rede electrica. Assim, a energia solar mostra-se como solução para a vila sede dominada por painéis solares individualizados.
Em entrevista, o Secretário Permanente do distrito revelou que o Executivo local está preocupado para iluminar todos os postos administrativos do distrito, estando agora com o projecto Negomano em manga.
Assamo Omar, referiu que, tendo em conta o elevado custo de instalação da rede nacional de Cahora bassa, centrais solares constituem “balão de oxigénio” no que tange a iluminação de alguns pontos (postos administrativos e locali dades) para atingir a meta Energia para todos ate 2030.
“Mueda tem 5 postos administrativos e agora temos apenas o posto de Negomano às escuras. os impactos da energia solar são positivos e maiores. A Central fotovoltaica trouxe enorme satisfação popular e gostaríamos que projectos idênticos fosse expandidos para algumas localidades onde a rede nacional na chega” – Omar, ajuntando a asfaltagem da rodovia de acesso à Ponte da Unidade que liga a vizinha república da Tanzania como um marco importante para as populações de Ngãpa e Negomano.
A fonte sublinhou inda que, pelo facto de a energia solar ser limpa e de baixo custo, apresenta-se apropriada para as comunidades rurais pois que, a recarga de 50 meticais pode servir para 15 dias a consumir, tendo em conta o nível de posse de electro-domesticos. “Em termos ambientais, energia solar é zero poluição, portanto, é energia limpa”.
Na localidade de Mpaka, posto administrativo de Mavala, disto de Balama, funciona uma pequena central fotovoltaica que produz beneficia pouco mais de 600 famílias.
Estefania Buruhane e Jose Raibo, são alguns dos beneficiários de energia solar da Central de Mpaka e referem que estao satisfeitos pelo custo.
Enquanto isso, a expansão do uso de energias verdes vai ganhando terreno, na provincia, tendo em conta aa impossibilidade de cobertura da rede nacional de Cahora Bassa, não obstante tratar-se igualmente de energia limpa.
Cabo Delgado conta atualmente com 4 centrais fotovoltaicas, sendo 3 operacionais e um para lizada (Metoro) enquanto o projecto de Mecúfi está em “banho maria”(BA). (Moz24)
Buanamade Assane é jornalista moçambicana do Jornal Horizonte. Esta investigação foi concluída com o apoio do projeto Oxpeckers Investigative Environmental Journalism #PowerTracker e da Open Climate Reporting Initiative do Center for Investigative Journalism.
Você pode encontrar o conjunto de dados usado para a investigação na seção Oxpeckers Obtenha os dados aqui
Tags: #PowerTracker, Energia para Todos, Moçambique