AUMENTA RECEIO DE ALASTRAMENTO DA CÓLERA: ALERTA WORLD VISION
Pelo menos 35.000 crianças foram obrigadas a abandonar as suas casas nos últimos dias devido a uma nova onda de ataques armados em Cabo Delgado, no norte de Moçambique. As crianças constituem a maioria das pouco mais de 67.000 pessoas que buscaram refúgio em vários pontos da região, incluindo a província vizinha de Nampula (33.000).
Constância Assusto, 13 anos, explicou a sua experiência aterradora: “A nossa comunidade foi atacada quando eu voltava da escola. Eu fugi. A minha família também fugiu, e ficámos separados por dois dias. Durante dois dias, andei à procura de um lugar seguro para ficar. Estava tão assustada e sem saber o que fazer. Apenas segui grupos de pessoas que também estavam a fugir dos ataques.” Felizmente, ela reencontrou a sua família dois dias depois acampados numa escola no distrito de Erati, no norte da província de Nampula. Ela afirmou que os seus sonhos de se tornar enfermeira tinham terminado, pois teve que abandonar a escola.
As crianças deslocadas encontram-se desesperadamente carentes de alimentos, água e abrigo. Milhares delas fugiram ao avanço de grupos armados não-estatais de quem são conhecidas práticas como o recrutamento forçado de rapazes, rapto de raparigas e decapitação da população local.
“Estamos muito preocupados com este novo deslocamento de crianças, a maioria das quais já vivia num estado de vulnerabilidade extrema”, afirmou Simione Mhula, Gestor de Protecção à Criança da World Vision Moçambique. “Sabemos, com base em experiências anteriores, os riscos a que estas meninas e meninos estarão expostos e agora acrescidos, incluindo o de sofrerem abusos de ordem vária. Devemos garantir que a sua protecção seja uma prioridade nos planos de resposta do Governo, bem como entre os parceiros”.
As pessoas deslocadas devido à mais recente vaga de ataques necessitam urgentemente de alimentos, abrigo, água e condições mais apropriadas de saneamento. As autoridades necessitam de apoio urgente, não obstante o esforço até aqui empreendido. De particular preocupação é a possibilidade do resurgimento de doenças de origem hídrica, como a cólera, o que agravaria ainda mais o sistema de saúde local já sobrecarregado.
“Temos alguns itens não alimentares pré-posicionados (kits de abrigo e cozinha, redes mosquiteiras e purificadores de água) que ajudarão, mas é preciso muito mais do que isso”, afirmou Angelo Pontes, Gestor Humanitário e de Emergência da World Vision Moçambique. “Temos várias intervenções destinadas à crianças em Nampula. Estas incluem encaminhar crianças vulneráveis e em risco para organizações especializadas em apoio psicossocial, apoio jurídico, assistência médica e advogar junto de instituições privadas e públicas para uma melhor protecção das crianças. Estamos a planear expandir a resposta em colaboração com parceiros e sob a coordenação do governo. Devemos agir hoje, não amanhã”, acrescentou Pontes.
Os mais recentes desenvolvimentos em Cabo Delgado seguem-se a um período de relativa acalmia naquele ponto do país. Há relatos de assassinatos e destruição de casas e infraestruturas governamentais, incluindo um centro de saúde, um edifício do governo local e residência do administrador do distrito. Estabelecimentos comerciais foram saqueados.[1]
O conflito em Cabo Delgado persiste desde 2017, resultando na morte de milhares de pessoas e causando danos na província rica em minerais. O plano da World Vision de resposta a situação em Cabo Delgado tem como alvo assistir 125.000 pessoas e requer US$6,58 milhões para assistência alimentar, abrigo, água, saneamento e higiene, proteção e educação. (COMUNICADO DE IMPRENSA)