Em 2023, a África revelou-se um lugar cada vez mais perigoso, tanto para os jornalistas como para o próprio jornalismo. Não foram so pelo assinato de pelo menos oito de nós, tambem 67 jornalistas foram presos neste ano, e com o registo de dezenas de pessoas a sofrerem mais ameaças e assediadas, até mesmo a prática de reporter sobre a verdade à nossa volta, está a ser cada vez mais dificultada pelos corruptos que lideram os nossos países.
Os líderes políticos – muitas vezes cleptocratas que vendem recursos, promovem a incompetência e o nepotismo, assediam e oprimem a sociedade civil – pagam a repórteres e publicações de falsas notícias (fake News) avultadas quantias de dinheiro para abafar aqueles que pretendem desvendar a injustiça e responsabilizar as elites governantes. Usam a violência para nos intimidar, negam-nos acesso à informação e recusam-se até a atender o telefone quando levantamos questões. Os cidadãos relatam ter perdido a esperança, especialmente quandoas eleições são manipuladas apenas patra manter as mesmas elites políticas no poder.
É necessário notar que os nossos líderes corruptos, além de prejudicarem os seus próprios cidadãos, também causam danos ao resto do mundo. Como irá a migração para fora de África diminuir, quando os governantes cleptocratas beneficiam dela através de taxas de passaporte cada vez mais elevadas e do envolvimento em agências de tráfico de seres humanos? Como podem as alterações climáticas e a deflorestação serem travadas quando o financiamento internacional destinado a resolver estes problemas desaparece nos bolsos dos indivíduos? A Europa manifestou preocupação com os golpes militares africanos, mas será que espera realmente que os cidadãos desesperados continuem a submeter-se ao domínio de regimes pós-coloniais, ladrões e incompetentes?
No entanto, o facto de os nossos actuais líderes políticos gastarem grandes quantias em pagar, promover notícias falsas (Fake News) enquanto caçam jornalistas credíveis, também parece mostrar que os mesmos nos vêem, cada vez mais, como uma ameaça. Temos orgulho de ter isto em comum com os activistas, profissionais críticos e outros cidadãos dos nossos países que desafiam os poderes actuais e os seus sistemas. As nossos reportagens sublinharam a necessidade de as potências internacionais ouvirem o grito de liberdade que cresce cada vez mais alto nos nossos países. Como repórteres de investigação africanos, comprometidos com a democracia, a justiça social, a transparência e a responsabilização, precisamos de ser ouvidos e lidos em Londres, Paris, Nova Iorque e, na verdade, em Moscovo, Teerão ou Pequim.
Temos o prazer de dizer que também neste aspecto fizemos grandes progressos em 2023, com publicações nossas ou sobre nós nos meios de comunicação do Reino Unido, França, Países Baixos, Bélgica, Itália e EUA. Em 2024 pedimos para sermos ainda mais ouvidos por estes meios de comunicação e pelos seus públicos, simplesmente porque já não se vive como sempre. Sem as nossas vozes, sem apoio à liberdade de imprensa e à democracia no nosso continente, sem um esforço conjunto para enfrentar os opressores cleptocráticos, África corre o risco de cair ainda mais, com cada vez mais secas e conflitos, mais pessoas votando com os pés, e cada vez mais desespero forçando golpes militares e outros pesadelo futuros no continente.
Os jornalistas não são ativistas, nem deveriam ser. Mas é nosso dever profissional e ético denunciar pelo interesse público, revelar irregularidades, responsabilizar os transgressores e, de facto, procurar ter um impacto melhoria destas questoes. Fazemos este apelo ao apoio aos colegas, à cidadania internacional em geral e ao mundo, porque acreditamos que com mais liberdade para meios de comunicação credíveis, mais apoio às forças da democracia e menos cleptocracia, África pode ser um lugar melhor. E que uma África melhor, mais bem equipada para servir o seu povo, bem como a sua natureza, florestas e clima, também significará um mundo melhor.
Comprometemo-nos, em 2024, a:
- Distinguir-nos, membros do NAIRE, como jornalistas credíveis e éticos que permanecem firmes no meio de uma enxurrada de notícias falsas e propaganda paga;
- Procurar o debate dentro das nossas comunidades, bem como com a comunidade internacional e os poderosos;
- Informar a nossa sociedade civil e dotá-la da informação necessária para agir em prol do interesse público;
- Estabelecer uma presença forte nos meios de comunicação social, a partir dos quais planeamos envolver cada vez mais o público pan-africano e internacional;
- Apelar a colegas de países onde o jornalismo está mais protegido para trabalharem connosco em igualdade e ajudarem a amplificar o nosso trabalho;
- Apelar às forças pró-democracia, aos países parceiros poderosos a nível internacional, à União Europeia e à União Africana para apoiarem o jornalismo profissional e as forças pela democracia, responsabilização e transparência no continente. E estabelecer este apoio em diálogo com as estruturas de cidadãos africanos, bem como com jornalistas independentes e as suas redes;
- Continuar a construir e utilizar a plataforma ZAM para transmitir as nossas chamadas e os nossos esforços transnacionais pan-africanos. E aumentar a sua função como canal de apoio editorial, de segurança, jurídico e psicológico que tanto nos falta na maioria dos nossos países;
- Envolver-nos com os apoiantes internacionais da democracia e dos meios de comunicação social livres para nos ajudar a criar plataformas de comunicação social mais profissionais e de boa qualidade em África.
Assinado
Agather Atuhaire, jornalista independente, Uganda, @AAgather
Anas Aremeyaw Anas, Ghana, @anasglobal
Brezh Malaba, Newshawks, Zimbabwe, @BrezhMalaba
Catherine Muema, Africa Uncensored, Kenya, @catevacemuema
Charles Mafa, Centro Makanday de Jornalismo Investigativo, Zâmbia, @MakandayMedia
Chief Bisong Etahoben, Cameroon, @ChiefBisongEta1
David Dembélé, Dépêches du Mali and Mail24Info, Mali, @alcofris
Derick Matsengarwodzi, free-lance, Zimbabwe, @Comic24Derick
Elizabeth BanyiTabi, The Guardian Post, Cameroon, @ElizabethTabi1
Emmanuel Mutaizibwa, Nation Media, Uganda, @emutaizibwa
Estacio Valoi, Moz24H, Mozambique, @estaciosvaloi
Gregory Gondwe, Plataforma para Jornalismo Investigativo, Malawi, @PlatformMalawi
Hayatte Abdou, National Magazine, Comoros, @hayatteabodu
John-Allan Namu, Africa Uncensored, Kenya, @AFuncensored
Josephine Chinele, Platform for Investigative Journalism, Malawi, @JosephineChinel
Joy Kirigia, Africa Uncensored, Kenya, @Joy_Kirigia
Musikilu Mojeed, Editor in Chief Premium Times, Nigeria, @musikilu
Ngina Kirori, repórter investigativa e de projetos especiais, Nation Media, Quênia, @NginaKirori
Ohemeng Tawiah, Joynews, Ghana, @ohemengtawiah
Selay Marius Kouassi, journalist/media trainer Information Integrity Initiative, Ivory Coast, @selaymariusk
Taiwo Adebulu, The Cable, Nigeria, @taiween
Theophilus Abbah, The Insight, Nigeria, @theinsightngr
Veja nossas recentes publicações:
Chore Liberdade, https://www.zammagazine.com/investigations/1563-human-rights-violations-2017-2022-in-nigeria-cameroon-uganda-zimbabwe-and-kenya
A riqueza sob seus pés, https://www.zammagazine.com/investigations/1679-mozambique-southern-africa-s-mining-scars-part-3
A criação da migração, https://www.zammagazine.com/investigations/1712-the-making-of-african-migration-losing-hope
Funcionários públicos lutando contra a corrupção internamente,
https://www.zammagazine.com/investigations/1728-public-servants-kenya-uganda-nigeria-ghana-malawi
O assassinato de Martinez Zogo https://www.zammagazine.com/investigations/1648-cameroon-the-murder-of-martinez-zogo